São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

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VALDO CRUZ

Bomba-relógio

BRASÍLIA - O comando da campanha de José Serra à Presidência está reclamando não só do azar mas também de gente do Banco Central depois das turbulências provocadas no mercado com as perdas nas aplicações financeiras.
Serra vinha recuperando pontos nas pesquisas depois do lançamento da peemedebista Rita Camata como sua vice e de novas aparições em programas do PSDB na TV. O receio, agora, é que volte a cair com as incertezas no mercado financeiro.
As críticas, reservadas, são para o diretor Luiz Fernando Figueiredo, autor das medidas que geraram a queda-de-braço entre o Banco Central e o mercado. O chefe Armínio Fraga, porém, já o defendeu, dizendo que a decisão foi de toda a diretoria.
Se Luiz Fernando é ou não o responsável, se o BC errou ou não, o fato é que o momento é de incertezas. Os títulos públicos estão perdendo seu valor, o mercado está cobrando mais caro para comprá-los e aceitando apenas vencimentos de curto prazo.
Tudo isso impulsionado pelo ambiente eleitoral, que está gerando dúvidas sobre como o sucessor de FHC honrará a dívida pública.
As incertezas acabaram atingindo o bolso da classe média, que perdeu dinheiro. Imagine o bom humor dessa turma. Quem deve sentir a fúria desse pessoal é José Serra, candidato do governo FHC, visto no final das contas como o grande culpado.
Pior ainda se as turbulências persistirem e se agravarem. O BC pode não ter condições de reduzir os juros como planejava. O efeito seria ruim na campanha de Serra.
Mas, se o cenário se deteriorar muito, ganha novo fôlego a tese do terrorismo eleitoral. Dizem que ele beneficia Serra. Mas pode acabar favorecendo também Ciro Gomes.
Seja quem for o vencedor, sua vida está ficando mais complicada. O BC está sendo obrigado a trocar mais e mais títulos de longo prazo por outros de curto prazo.
Resultado: o próximo presidente pode receber como herança uma dívida altíssima vencendo logo no início de seu governo. Uma verdadeira bomba-relógio.


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