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VALDO CRUZ
Bomba-relógio
BRASÍLIA - O comando da campanha de José Serra à Presidência está
reclamando não só do azar mas também de gente do Banco Central depois das turbulências provocadas no
mercado com as perdas nas aplicações financeiras.
Serra vinha recuperando pontos
nas pesquisas depois do lançamento
da peemedebista Rita Camata como
sua vice e de novas aparições em programas do PSDB na TV. O receio,
agora, é que volte a cair com as incertezas no mercado financeiro.
As críticas, reservadas, são para o
diretor Luiz Fernando Figueiredo,
autor das medidas que geraram a
queda-de-braço entre o Banco Central e o mercado. O chefe Armínio
Fraga, porém, já o defendeu, dizendo
que a decisão foi de toda a diretoria.
Se Luiz Fernando é ou não o responsável, se o BC errou ou não, o fato
é que o momento é de incertezas. Os
títulos públicos estão perdendo seu
valor, o mercado está cobrando mais
caro para comprá-los e aceitando
apenas vencimentos de curto prazo.
Tudo isso impulsionado pelo ambiente eleitoral, que está gerando dúvidas sobre como o sucessor de FHC
honrará a dívida pública.
As incertezas acabaram atingindo
o bolso da classe média, que perdeu
dinheiro. Imagine o bom humor dessa turma. Quem deve sentir a fúria
desse pessoal é José Serra, candidato
do governo FHC, visto no final das
contas como o grande culpado.
Pior ainda se as turbulências persistirem e se agravarem. O BC pode não
ter condições de reduzir os juros como planejava. O efeito seria ruim na
campanha de Serra.
Mas, se o cenário se deteriorar muito, ganha novo fôlego a tese do terrorismo eleitoral. Dizem que ele beneficia Serra. Mas pode acabar favorecendo também Ciro Gomes.
Seja quem for o vencedor, sua vida
está ficando mais complicada. O BC
está sendo obrigado a trocar mais e
mais títulos de longo prazo por outros de curto prazo.
Resultado: o próximo presidente
pode receber como herança uma dívida altíssima vencendo logo no início de seu governo. Uma verdadeira
bomba-relógio.
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