SÃO PAULO - Posso parecer Cassandra, mas não dá mais para esconder que se avolumam sinais de que o Brasil marcha para uma crise à la Argentina. Para amenizar o "cassandrismo": não será, com certeza, um buraco tão profundo nem tão negro, mas buraco será.
O que impede uma crise igual são duas coisas: o câmbio flutuante, muito mais flexível que o fixo -adotado pela Argentina até o fim do ano passado-, e o fato de não estar à vista, no Brasil, um louco que, em vez de ser posto em camisa-de-força, foi posto no Ministério da Economia (refiro- me, claro, a Domingo Cavallo).
No mais, as semelhanças assustam. Primeiro, o risco-país, coisa de que só os especialistas entre os especialistas tomavam conhecimento, tanto lá como cá. Lá, aos poucos, virou tema de conversa de botequim; aqui, já é personagem quase diário do noticiário, até mesmo na televisão, muito mais avessa a tecnicalidades.
Uma das coisas que a crise argentina ensinou é que, a partir de mil pontos, pouco mais ou pouco menos, o índice já não serve para medir grande coisa. Com dez pontos percentuais de juros acima do nível norte-americano (o que é a decodificação prática dos mil pontos), é impossível tomar dinheiro fora, a não ser que o cidadão/empresa se disponha ao suicídio.
Como o crédito interno também tem custo absurdo, fica claro que a atividade econômica, no que depender de crédito, ficará comatosa.
Some-se o fato de que, lá como cá, a dependência externa e a dívida interna são assombrosas e há um conjunto de similitudes que não podem ser desprezadas.
Para fechar o círculo de coincidências: lá, a crise foi fabricada por Carlos Menem/Domingo Cavallo e cimentada por Fernando de la Rúa/ Domingo Cavallo. Só com má-fé se pode responsabilizar Eduardo Duhalde. Aqui, os construtores da crise chamam-se Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan e Gustavo Franco. Apontar o dedo para o sucessor, seja qual for, será igualmente má-fé.


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