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TENDÊNCIAS/DEBATES
A dialética do segundo turno
CESAR MAIA
No final de 99, tive a oportunidade de participar de um seminário,
em Montevidéu, promovido pelo Instituto Nalmann, do Partido Liberal Democrata da Alemanha. Os temas principais eram as eleições em dois turnos e a
dinâmica da pré-campanha e do primeiro turno como definidora do segundo turno.
Sem exagero, poderia dizer que esse
seminário foi fundamental para minha
vitória em 2000, no segundo turno, numa eleição que muitos achavam perdida. Uma vez ouvindo e lendo os especialistas, tudo parece óbvio. Aliás, o
mais difícil na política é transformar em
prática a teoria, na medida em que os
políticos, quando disputam eleições
majoritárias em grandes cidades, Estados e no país, vêm carregados de experiência e, consequentemente, de hábitos
incorporados.
Vamos ao caso mais evidente: uma
eleição na qual um dos candidatos está
lá na frente e os demais disputam o segundo lugar. Os que disputam o segundo posto tendem, naturalmente, a se diferenciar e mostrar ao eleitor os defeitos
dos demais. Se a segunda vaga é disputada ponto percentual a ponto percentual, a tendência natural é que se desqualifique o adversário usando mais e
mais propaganda negativa. Se esta acerta o alvo, produz um constrangimento
entre os candidatos e, principalmente,
volta o eleitorado de um contra o outro.
Quaisquer dos dois que vá para o segundo turno terá derrota certa, pois o
eleitorado do que chegou em terceiro
estará polarizado contra ele, na medida
em que o segundo turno se dá dias depois. Mas, se os que disputam não polarizam, têm a sensação de que vão perder
a parada.
Em 2000, joguei tudo em não entrar
em conflito com a atual governadora.
Passei para o segundo turno suando,
por menos de 15 mil votos em 4 milhões
de eleitores, mas abri caminho para receber seu apoio e de seu eleitor no segundo turno, o que foi decisivo na virada. Foi um risco, pois também poderia
ter ficado no primeiro turno.
Da mesma forma, quando um candidato se distancia, a tendência dele é tratar bem todos os adversários, para ficar
com o apoio e a simpatia dos que não
forem para o segundo turno e ganhar as
eleições. Enquanto os "segundos" entram em conflito, ele trata de outro assunto. Quando há uma denúncia contra
qualquer um deles, ele troca de tema e
diz que confia sempre na Justiça.
Assim vai formando massa crítica favorável para o segundo turno. É exatamente isso que a campanha de Lula vem
fazendo, com muita habilidade, e que
passa para a opinião pública como moderação. E levam isso ao limite. Com a
certeza de que o eleitor já o vê como
oposição, nos comerciais e no programa de TV deixa de bater no governo.
Nenhuma frase atingiu o governo FHC.
Garotinho saiu do governo e deixou
imensos rabos. Mas, até agora, as críticas do governo do PT só o atingiram
com levíssimos "hooks" no fígado. Ciro
continua sendo esperado de braços
abertos, como parceiro de mudanças, e
os desafetos de Serra têm tapete vermelho. Assim, Lula se prepara para, no mínimo, dividir o eleitorado dos dois que
sobrarem no segundo turno, garantindo a vitória.
Lula se prepara para, no mínimo, dividir o eleitorado dos dois que sobrarem no segundo turno, garantindo a vitória
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A campanha tucana vinha, até três semanas atrás, ingenuamente fazendo o
jogo de Lula. Imaginavam que deveriam deixar o candidato do PT pra lá e,
depois, vencê-lo no segundo turno. Erro grave, pois a tal "campanha de alto
nível" só fazia -e faz- consolidar a
candidatura de quem está na frente e
garantir-lhe a vitória no segundo turno
pela suave ausência dos demais.
De uns dias para cá, a pré-campanha
tucana mudou para melhor, do ponto
de vista da viabilidade -e iniciou um
processo de desqualificação do líder das
pesquisas, de forma a fragilizá-lo para o
segundo turno. Aliás, Garotinho já vinha fazendo isso, contrastando valores
como aborto, união de homossexuais,
apostando num populismo de direita e
acentuando a inexperiência administrativa, diferenciando-se de Lula.
Para a campanha tucana, esta é uma
questão de vida ou morte, por duas razões. Em primeiro lugar, porque o eleitor, em princípio, não quer continuidade -e não será com discursos que se
marcará posição, pois ele não acredita
nisso. Melhor é cair no colo do governo
e capitalizar o que estiver por aí. Mas e
se o eleitor, em princípio, não quer continuidade? Poderá querer, se chegar à
conclusão de que as alternativas são extremamente graves. Seria o caso de pedir desculpas ao bispo e castigar fortemente a alternativa que se apresenta.
Ou, como diz Morató, em seu imperdível "El Juego de los Politicos", usar o
discurso da "catástrofe iminente".
Este é um lado que reforça, e muito, o
outro para o segundo turno. Conforme
se fragiliza o líder, abre-se campo para
ganhar no segundo turno. O cenário para o segundo turno das eleições se completa com nenhuma agressão aos que
disputam o segundo lugar -uma tática
de alto risco, mas inevitável na conquista da simpatia daqueles eleitores para o
segundo turno.
Isso só vale para os que acreditam em
pesquisas pré-eleitorais. Que, aliás, são
todos. Prova: as campanhas nem começaram e já mudaram -o líder nas pesquisas, de janeiro para cá, e o candidato
do governo, de 15 de maio para cá.
Cesar Maia, 56, economista, é prefeito, pelo
PFL, do Rio de Janeiro. Foi prefeito da mesma cidade de 1993 a 1996.
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