São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

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PAINEL DO LEITOR

Saúde
"O sr. Cerqueira Leite deve ter sido a inspiração de João Gilberto em "Samba de uma nota só". Sua especialidade como cientista é usar o espaço que lhe é cedido regularmente pela Folha para falar mal de José Serra ("Saúde, milagres e populismo", "Tendências/Debates", 5/6). O problema é que Cerqueira Leite fornece análises e números errados. Ele se espanta, por exemplo, de que Serra preveja o atendimento do Programa de Saúde da Família (PSF) a 160 milhões de brasileiros a um custo anual de R$ 3 bilhões para o governo federal, enquanto agora está sendo gasto R$ 1 bilhão para atender a 50 milhões. Regra de três simples que qualquer criança de nove anos confirma na hora, embora cause espanto a um cientista. O cientista confunde também PSF com planos de saúde, esquecendo-se de que o referido programa é exclusivamente de atenção básica e não inclui atenção hospitalar. A seguir, Cerqueira Leite aceita que "o Brasil apresentou um significativo progresso" nos últimos dez anos na redução da mortalidade infantil. Mas o cacoete o obriga a acusar Serra de se omitir em relação ao saneamento básico, sem sequer se lembrar de que foi Serra o autor do projeto de lei que regulamenta o assunto e que a Fundação Nacional de Saúde, sob seu comando, expandiu continuamente seus investimentos nessa área até chegar a mais de R$ 2 bilhões em 2001/ 2002. Cerqueira Leite também escamoteia o fato de que os R$ 160 milhões destinados a manter um preço-teto para cada medicamento são adicionais, e não substitutos do Programa do Remédio Popular. E faz o seu costumeiro e raivoso ataque aos medicamentos genéricos sem se dar ao simples trabalho de ouvir qualquer cidadão sobre o tema. O genérico, meu caro cientista, foi a novidade mais rápida, bem-sucedida e aplaudida na história da indústria farmacêutica."
Jutahy Júnior, deputado, líder do PSDB na Câmara dos Deputados (Brasília, DF)

Educação
"Escola boa, sim! Escola seriada que reprova os alunos, não! Estão equivocados aqueles que defendem o fim da progressão continuada (que não deve confundir-se com promoção automática) como meio de ter uma boa escola. A escola seriada que reprova já existiu no Brasil no século passado, e a herança que nos deixou foi reprovação em massa, defasagem idade-série, evasão escolar e jovens e adultos analfabetos. É preciso aperfeiçoar o sistema de progressão continuada para garantir boas aulas aos alunos e a recuperação continuada. É claro que isso exige profissionais bem formados, salários dignos e condições adequadas de trabalho na escola. É preciso também garantir vagas para todas as crianças na educação infantil. A educação de zero a seis anos é de responsabilidade dos municípios também, e não só das famílias. Além de ser um direito das crianças, uma boa escola de educação infantil faria desaparecerem muitas das dificuldades que os alunos do ensino fundamental encontram para aprender."
Moacyr da Silva (São Paulo, SP)

Análises
"Em relação ao texto "Ministério da Cultura diz que vai investigar ligação entre deputado tucano e ONG" (Brasil, pág. A15, 5/6), esclareço que nem esta Secretaria Executiva nem nenhum servidor deste ministério informou a esse periódico que irá promover a citada investigação, devendo, sim, serem analisadas as documentações das prestações de contas dos recursos transferidos em favor da Adesbrar e dos eventuais projetos a serem apresentados para a celebração de novos convênios, ambos à luz do que determina a legislação que rege a matéria."
Ulysses Cesar Amaro de Melo, secretário-executivo do Ministério da Cultura (Brasília, DF)

1932
"Leio sistematicamente os artigos da jornalista Barbara Gancia, mas tudo tem limite ("Revolução de 32 não carece de homenagens", Cotidiano, pág. C2, 24/5). Milhares de pessoas, contra apenas três (a prefeita, o vereador e essa bárbara adesão), estão indignadas com a usurpação do nome do túnel Nove de Julho. Essas três pessoas não têm o direito de decidir sobre a vida da cidade. Se fosse assim, cada cidadão retiraria das ruas muitos nomes e acrescentaria outros. Mas, como dizia Castro Alves: "A praça é do povo". De todas as homenagens que o movimento de 32 recebeu (mais do que o palácio e o feriado), a mais importante é o túnel Nove de Julho, pois, inaugurado em 1938, por Getúlio Vargas, vencedor pelas armas, representa a vitória moral do movimento pela redemocratização do país. Barbara está desinformada quando diz que o túnel não tem nome. Os nomes dos logradouros representam a memória cultural de seu povo. São as ruas Direita, do Café, da Pólvora, da Memória até. Não pertencem a nenhum mandatário, assim como não se curvam a nenhuma opinião jornalística. Barbara ofende até mesmo o seu homenageado. Cidadão de grandes méritos, médico ilustre, herói do movimento de 32, com certeza o dr. Daher Cutait não somaria com seus três homenageantes, alijando milhares de outros cidadãos que, naquele movimento, arriscaram ou deram suas vidas por um ideal."
Luiz Sérgio Carraro, integrante do Conselho da Sociedade Veteranos de 32 -MMDC (São Paulo, SP)

Apóstolo são Paulo
"Achei fantástica a crônica de Carlos Heitor Cony de 28/5 ("O silêncio das mulheres", Opinião, pág. A2). Realmente, hoje em dia, a mulher conquistou o seu espaço. Contudo não acredito que são Paulo tenha sido machista. Lembremo-nos de que ele viveu em uma época patriarcal, em que a mulher era submissa ao homem. Mesmo assim, ele acreditava na igualdade de direitos, como consta na "Carta aos Gálatas" (3, 28)."
Reginaldo Nascimento Padilha (Tietê, SP)

Caças da FAB
"Em relação à licitação para a compra de novos caças para a Força Aérea Brasileira, pergunto por que não escolher o Mirage 2000BR, da Embraer? Temos indústria, engenheiros de alto nível, parceria com franceses e daríamos empregos para mais brasileiros desempregados."
Josué Piniano Procacino (Bragança Paulista, SP)

Apito amigo
"Se é verídica a informação da nota "Mão coreana", publicada na seção "Painel" (pág. A4) em 4/6, sobre o fato de o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) dizer que vai chamar o juiz coreano Kim Young-joo para presidir a próxima convenção do partido, isso nos mostra, de forma cristalina, a exata dimensão do que ocorre hoje com a cúpula que dirige o PMDB. Como ex-árbitro de futebol, gostaria de lembrar ao ilustre político que, na condução de uma partida, os árbitros costumam cometer erros de fato e/ou de direito. Erros de fatos são erros como gol em impedimento, gol de mão etc. Já erros de direito são aqueles que levam à anulação da partida. Além disso, como em toda atividade humana, existem os erros involuntários e os intencionais. Assim, o senhor deputado não deve se esquecer de que grande parte da nação acompanha com interesse o que acontece atualmente com o partido, coisas que devem fazer Ulysses, Teotônio e Tancredo se revirarem no túmulo."
José Gracindo da Silva Soares (Contagem, MG)



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