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CLÓVIS ROSSI
Papai Estado, te amamos
SÃO PAULO- Dez anos ou pouco mais de uma virulenta propaganda
em favor do desmonte do Estado não
conseguiram transformar o brasileiro em um liberal.
Muito ao contrário. Pesquisa feita
pelo Centro de Pesquisas Pew, divulgada na quarta-feira pelos jornais,
ofereceu duas hipóteses aos pesquisados: o cidadão deve ser livre para perseguir seus objetivos sem interferência do Estado ou este deve garantir
que ninguém passe necessidade?
Foi no Brasil, entre 44 países, que se
deu uma das mais altas porcentagens
de pesquisados que preferem a segunda hipótese (70%, contra 28% favoráveis ao "laissez-faire").
Mais adeptos de papai Estado do
que no Brasil há apenas na Itália e
na Coréia do Sul (71% em cada um)
e, não surpreendentemente, na Rússia (74%) e na Ucrânia (76%).
Para comparação: no paraíso da livre iniciativa, os Estados Unidos,
apenas 34% pedem que o Estado cuide dos necessitados.
A maioria absoluta (58%) prefere
que cada um trate de conseguir sozinho seus objetivos.
Em sendo Rússia e Ucrânia dois
países ex-comunistas nos quais a
transição para o capitalismo foi selvagem e deixou milhões ao desamparo, é facílimo de compreender.
Mais difícil é o apelo que o Estado
ainda tem no Brasil, pois em outros
pontos da pesquisa fica evidente uma
majoritária decepção com os serviços
públicos.
Parece lógico deduzir que o brasileiro, em sua maioria, ainda acredita
que, cedo ou tarde, alguém conseguirá colocar o Estado para funcionar.
Talvez esses dados ajudem a entender a vitória de Luiz Inácio Lula da
Silva em 2002 e a permanência de seu
prestígio apesar de a economia continuar anêmica.
Mas atenção, Lula, a percepção sobre o quadro econômico alcança níveis alarmantes: 72% acham que a
economia ou não vai muito bem ou
vai mal.
No Peru, apenas 60% têm idêntica
impressão. E o governo acaba de se
ver obrigado a decretar estado de
emergência.
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