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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Papai Estado, te amamos

SÃO PAULO- Dez anos ou pouco mais de uma virulenta propaganda em favor do desmonte do Estado não conseguiram transformar o brasileiro em um liberal.
Muito ao contrário. Pesquisa feita pelo Centro de Pesquisas Pew, divulgada na quarta-feira pelos jornais, ofereceu duas hipóteses aos pesquisados: o cidadão deve ser livre para perseguir seus objetivos sem interferência do Estado ou este deve garantir que ninguém passe necessidade?
Foi no Brasil, entre 44 países, que se deu uma das mais altas porcentagens de pesquisados que preferem a segunda hipótese (70%, contra 28% favoráveis ao "laissez-faire").
Mais adeptos de papai Estado do que no Brasil há apenas na Itália e na Coréia do Sul (71% em cada um) e, não surpreendentemente, na Rússia (74%) e na Ucrânia (76%).
Para comparação: no paraíso da livre iniciativa, os Estados Unidos, apenas 34% pedem que o Estado cuide dos necessitados.
A maioria absoluta (58%) prefere que cada um trate de conseguir sozinho seus objetivos.
Em sendo Rússia e Ucrânia dois países ex-comunistas nos quais a transição para o capitalismo foi selvagem e deixou milhões ao desamparo, é facílimo de compreender.
Mais difícil é o apelo que o Estado ainda tem no Brasil, pois em outros pontos da pesquisa fica evidente uma majoritária decepção com os serviços públicos.
Parece lógico deduzir que o brasileiro, em sua maioria, ainda acredita que, cedo ou tarde, alguém conseguirá colocar o Estado para funcionar. Talvez esses dados ajudem a entender a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e a permanência de seu prestígio apesar de a economia continuar anêmica.
Mas atenção, Lula, a percepção sobre o quadro econômico alcança níveis alarmantes: 72% acham que a economia ou não vai muito bem ou vai mal.
No Peru, apenas 60% têm idêntica impressão. E o governo acaba de se ver obrigado a decretar estado de emergência.


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