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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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MARTA SALOMON

Tiros no Planalto Central

BRASÍLIA - O deputado Alberto Fraga, policial há 25 anos, ensinou os filhos a atirar aos oito e é contra a proibição da venda de armas no país.
Ele desconfia das estatísticas sobre criminalidade. Em pesquisa com presos da Papuda, no Distrito Federal, concluiu que os assaltantes e homicidas temem as armas de suas vítimas e -menos- os cachorros.
A caneta de Fraga transfigurou o projeto de lei levado ao Congresso em 1999 para proibir as armas. Há mais de cinco anos, todos os projetos semelhantes foram para a gaveta.
A indústria bélica nacional fatura por ano cerca de R$ 350 milhões. No ano passado, gastou R$ 568 mil para eleger 13 deputados federais de partidos variados e na campanha do PPS.
A tucana Denise Frossard foi a campeã em doações, seguida pelos deputados Roberto Jefferson (PTB), Alceu Collares (PDT) e Josias Quintal (PSB). Fraga não aparece na lista.
A Taurus, empresa que detém a maior fatia do mercado civil de armas, já distribuiu palm tops a congressistas. O deputado Fraga diz que não se venderia por um palm.
Do Estado da Taurus, o Rio Grande do Sul, o senador Paulo Paim lidera a oposição ao novo projeto, que tenta proibir a venda de armas no país, apresentado na semana passada pelo colega Renan Calheiros. Faz isso em nome dos empregos. Paim é do PT.
O programa de governo do candidato Luiz Inácio Lula da Silva defendeu genericamente o desarmamento. Dias atrás, Lula propôs taxar o comércio internacional de armas para financiar o combate à pobreza.
Mas falta o governo definir se quer ou não proibir o comércio de armas. Há dúvidas no Planalto sobre serem ou não as armas nacionais que estão matando os brasileiros.
O gramado do Congresso recebeu anteontem centenas de pares de sapatos de vítimas de armas de fogo. A votação do projeto segue sem data. E o deputado Alberto Fraga diz que não pretende assistir ao documentário "Tiros em Columbine", aquele que ganhou o Oscar com uma crítica à cultura das armas nos EUA.


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