|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARTA SALOMON
Tiros no Planalto Central
BRASÍLIA - O deputado Alberto Fraga, policial há 25 anos, ensinou os filhos a atirar aos oito e é contra a
proibição da venda de armas no país.
Ele desconfia das estatísticas sobre
criminalidade. Em pesquisa com presos da Papuda, no Distrito Federal,
concluiu que os assaltantes e homicidas temem as armas de suas vítimas
e -menos- os cachorros.
A caneta de Fraga transfigurou o
projeto de lei levado ao Congresso em
1999 para proibir as armas. Há mais
de cinco anos, todos os projetos semelhantes foram para a gaveta.
A indústria bélica nacional fatura
por ano cerca de R$ 350 milhões. No
ano passado, gastou R$ 568 mil para
eleger 13 deputados federais de partidos variados e na campanha do PPS.
A tucana Denise Frossard foi a
campeã em doações, seguida pelos
deputados Roberto Jefferson (PTB),
Alceu Collares (PDT) e Josias Quintal
(PSB). Fraga não aparece na lista.
A Taurus, empresa que detém a
maior fatia do mercado civil de armas, já distribuiu palm tops a congressistas. O deputado Fraga diz que
não se venderia por um palm.
Do Estado da Taurus, o Rio Grande
do Sul, o senador Paulo Paim lidera a
oposição ao novo projeto, que tenta
proibir a venda de armas no país,
apresentado na semana passada pelo
colega Renan Calheiros. Faz isso em
nome dos empregos. Paim é do PT.
O programa de governo do candidato Luiz Inácio Lula da Silva defendeu genericamente o desarmamento.
Dias atrás, Lula propôs taxar o comércio internacional de armas para
financiar o combate à pobreza.
Mas falta o governo definir se quer
ou não proibir o comércio de armas.
Há dúvidas no Planalto sobre serem
ou não as armas nacionais que estão
matando os brasileiros.
O gramado do Congresso recebeu
anteontem centenas de pares de sapatos de vítimas de armas de fogo. A
votação do projeto segue sem data. E
o deputado Alberto Fraga diz que
não pretende assistir ao documentário "Tiros em Columbine", aquele
que ganhou o Oscar com uma crítica
à cultura das armas nos EUA.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Papai Estado, te amamos Próximo Texto: Rio de Janeiro - Marcelo Beraba: Autoria desconhecida Índice
|