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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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MARCELO BERABA

Autoria desconhecida

RIO DE JANEIRO - Nunca houve crime mais fácil de ser resolvido do que o que ocorreu no campus do Rio Comprido da Universidade Estácio de Sá no dia 5 de maio passado.
Bastaria a polícia ter adotado os procedimentos elementares de investigação, como a requisição imediata das fitas das câmeras de segurança e o levantamento de todas as testemunhas, e certamente a autoria do disparo que feriu gravemente uma universitária já teria sido identificada.
A polícia levou quatro dias para tomar conhecimento do sistema de segurança gravado da universidade e mais dois para descobrir que as fitas que recebeu estavam adulteradas. Todas as perícias foram feitas tardiamente e, até hoje, passado um mês, a polícia faz apelos para que apareçam testemunhas do crime.
Aí está um caso clássico que merece estudo, porque condensa todos os desvios e falhas da investigação policial e porque expõe os estragos que a contaminação da política rasteira provoca na competência técnica. Essa contaminação, histórica, desvirtua as políticas de segurança porque as coloca a serviço de fins eleitorais.
A consequência, como sabemos, é um desastre para a sociedade. Dificilmente um criminoso é punido.
A revista "Pesquisa" (Fapesp) deste mês traz o resultado parcial de um estudo sobre crime e impunidade. Nos últimos cinco anos, foram registrados em 16 delegacias da cidade de São Paulo cerca de 600 mil crimes violentos e não-violentos. O estudo analisou 338,6 mil. Destes, apenas 21,8 mil viraram inquéritos policiais. Uma primeira projeção indica que só 13,1 mil serão objeto de denúncia por parte do Ministério Público e de acolhida pela Justiça. Estima-se que, no final, cerca de 5% dos crimes analisados terão tido algum tipo de castigo.
Como registra o sociólogo Sérgio Adorno, coordenador da pesquisa do Centro de Estudos da Violência, a maioria dos crimes é de autoria desconhecida. Em São Paulo ou no Rio, a impunidade perpetua os horrores do nosso dia-a-dia.


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