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MARCELO BERABA
Autoria desconhecida
RIO DE JANEIRO - Nunca houve crime mais fácil de ser resolvido do que
o que ocorreu no campus do Rio
Comprido da Universidade Estácio
de Sá no dia 5 de maio passado.
Bastaria a polícia ter adotado os
procedimentos elementares de investigação, como a requisição imediata
das fitas das câmeras de segurança e
o levantamento de todas as testemunhas, e certamente a autoria do disparo que feriu gravemente uma universitária já teria sido identificada.
A polícia levou quatro dias para tomar conhecimento do sistema de segurança gravado da universidade e
mais dois para descobrir que as fitas
que recebeu estavam adulteradas.
Todas as perícias foram feitas tardiamente e, até hoje, passado um mês, a
polícia faz apelos para que apareçam
testemunhas do crime.
Aí está um caso clássico que merece
estudo, porque condensa todos os
desvios e falhas da investigação policial e porque expõe os estragos que a
contaminação da política rasteira
provoca na competência técnica. Essa contaminação, histórica, desvirtua as políticas de segurança porque
as coloca a serviço de fins eleitorais.
A consequência, como sabemos, é
um desastre para a sociedade. Dificilmente um criminoso é punido.
A revista "Pesquisa" (Fapesp) deste
mês traz o resultado parcial de um
estudo sobre crime e impunidade.
Nos últimos cinco anos, foram registrados em 16 delegacias da cidade de
São Paulo cerca de 600 mil crimes
violentos e não-violentos. O estudo
analisou 338,6 mil. Destes, apenas
21,8 mil viraram inquéritos policiais.
Uma primeira projeção indica que só
13,1 mil serão objeto de denúncia por
parte do Ministério Público e de acolhida pela Justiça. Estima-se que, no
final, cerca de 5% dos crimes analisados terão tido algum tipo de castigo.
Como registra o sociólogo Sérgio
Adorno, coordenador da pesquisa do
Centro de Estudos da Violência, a
maioria dos crimes é de autoria desconhecida. Em São Paulo ou no Rio,
a impunidade perpetua os horrores
do nosso dia-a-dia.
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