São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Chávez e o Mercosul

CARACAS - Chávez é louco? Pode ser. Messiânico? É. Populista? Com certeza. Mas inseriu a Venezuela na agenda internacional e dá um salto de qualidade no país, que cresceu mais de 9% em 2005 e investe pesadamente em educação e em comida barata, por exemplo.
Seus maiores problemas continuam sendo a retórica bélica, que atinge sempre os EUA e ora resvala para a Colômbia, ora para o Peru, e a fratura da sociedade venezuelana, com os ricos e escolarizados na oposição e os pobres e menos informados cada vez mais satisfeitos.
A Venezuela surfa nos preços estratosféricos do petróleo, e Chávez surfa no sucesso da Venezuela. Os analistas, porém, advertem: esses preços são artificiais. Chávez deveria agir não como a cigarra, mas como a formiguinha, investindo na produção, atraindo investimentos e estocando energias e recursos para o inverno, se e quando chegar.
Em resumo, a Venezuela vende petróleo, mas tem que comprar tudo. Precisa aproveitar o verão dos preços altos do produto para construir uma planta industrial e uma agricultura sólida. Sem investimentos privados, fica difícil. Com a adesão da Venezuela ao Mercosul, o bloco passa a ter um PIB de mais de US$ 1 trilhão, uma área maior que 12,7 milhões de quilômetros quadrados e um comércio global de US$ 300 milhões.
Mas passa a ter Hugo Chávez, que está por trás dos principais movimentos da região: insufla a Bolívia contra o Brasil e depois articula a paz; compra títulos da dívida argentina e anuncia fazer o mesmo com o Paraguai; bate todo dia em Washington; arma a Venezuela e se mete onde não é chamado -como na política interna dos vizinhos.
O lado positivo é econômico, as dúvidas são políticas, e o fato é que o Mercosul, com Venezuela e Chávez, nunca mais será o mesmo. O "líder" Lula que se cuide.


elianec@uol.com.br

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