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ELIANE CANTANHÊDE
Chávez e o Mercosul
CARACAS - Chávez é louco? Pode
ser. Messiânico? É. Populista? Com
certeza. Mas inseriu a Venezuela na
agenda internacional e dá um salto
de qualidade no país, que cresceu
mais de 9% em 2005 e investe pesadamente em educação e em comida
barata, por exemplo.
Seus maiores problemas continuam sendo a retórica bélica, que
atinge sempre os EUA e ora resvala
para a Colômbia, ora para o Peru, e
a fratura da sociedade venezuelana,
com os ricos e escolarizados na oposição e os pobres e menos informados cada vez mais satisfeitos.
A Venezuela surfa nos preços estratosféricos do petróleo, e Chávez
surfa no sucesso da Venezuela. Os
analistas, porém, advertem: esses
preços são artificiais. Chávez deveria agir não como a cigarra, mas como a formiguinha, investindo na
produção, atraindo investimentos e
estocando energias e recursos para
o inverno, se e quando chegar.
Em resumo, a Venezuela vende
petróleo, mas tem que comprar tudo. Precisa aproveitar o verão dos
preços altos do produto para construir uma planta industrial e uma
agricultura sólida. Sem investimentos privados, fica difícil.
Com a adesão da Venezuela ao
Mercosul, o bloco passa a ter um
PIB de mais de US$ 1 trilhão, uma
área maior que 12,7 milhões de quilômetros quadrados e um comércio
global de US$ 300 milhões.
Mas passa a ter Hugo Chávez, que
está por trás dos principais movimentos da região: insufla a Bolívia
contra o Brasil e depois articula a
paz; compra títulos da dívida argentina e anuncia fazer o mesmo com o
Paraguai; bate todo dia em Washington; arma a Venezuela e se mete onde não é chamado -como na
política interna dos vizinhos.
O lado positivo é econômico, as
dúvidas são políticas, e o fato é que
o Mercosul, com Venezuela e Chávez, nunca mais será o mesmo. O
"líder" Lula que se cuide.
elianec@uol.com.br
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