São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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SERGIO COSTA

Galinhas dos ovos de ouro

RIO DE JANEIRO - Uma guerra pelo controle do tráfico no morro de São Carlos já matou pelo menos dez nesta semana. Isso porque, explica a polícia, em março mataram o "Aritana". Quem? Aritana, o chefe do tráfico na favela. Antes de ser morto, ele foi filmado enquanto desfilava de moto com cordões e jóias tão brilhantes quanto o fuzil que levava a tiracolo.
Mas Aritana foi filmado e morto onde? No morro de São Carlos, onde ele era "o cara". E é aí que o filme começa a se repetir. Examinar como chefões são presos ou mortos, hoje e sempre, é um exercício interessante.
Um então famoso "Bem-Te-Vi" da Rocinha acabou emboscado pela polícia em frente ao bar Rei do Açaí. Entrevistei-o uma vez ali, em meio a homens com fuzis automáticos e granadas no pescoço. Dava para ver a polícia lá embaixo e o entra-e-sai frenético na favela. "Bem-Te-Vi" batia ponto todos os dias no local. Quem não sabia?
Depois, um tal "Sassá" foi preso em seus domínios na Maré, num bunker com estoque de miojo, iogurte e muitas balas de verdade. Em 2004, foi a vez de "Gangan", antecessor de "Aritana", ser morto pela polícia numa "mansão" no alto do São Carlos, de onde controlava o tráfico e colecionava namoradas e bebidas finas.
Se eles sempre estiveram ali, por que não foram encontrados antes?
Criminosos que aterrorizam o Rio normalmente têm paradeiro certo e até endereço. Mas são vistos por maus policiais como galinhas dos ovos de ouro e só são presos ou mortos quando esgotam a produção da granja-ou ganham notoriedade demais. Aí, matam a galinha e expõem suas vísceras.
Mais tarde, voltam ao galinheiro e cevam outras poedeiras até que uma vire a bola da vez. Um círculo vicioso em que só muda o apelido do "inimigo número um" da vez.


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