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SERGIO COSTA
Galinhas dos ovos de ouro
RIO DE JANEIRO - Uma guerra
pelo controle do tráfico no morro
de São Carlos já matou pelo menos
dez nesta semana. Isso porque, explica a polícia, em março mataram o
"Aritana". Quem? Aritana, o chefe
do tráfico na favela. Antes de ser
morto, ele foi filmado enquanto
desfilava de moto com cordões e
jóias tão brilhantes quanto o fuzil
que levava a tiracolo.
Mas Aritana foi filmado e morto
onde? No morro de São Carlos, onde ele era "o cara". E é aí que o filme
começa a se repetir. Examinar como chefões são presos ou mortos,
hoje e sempre, é um exercício interessante.
Um então famoso "Bem-Te-Vi"
da Rocinha acabou emboscado pela
polícia em frente ao bar Rei do Açaí.
Entrevistei-o uma vez ali, em meio
a homens com fuzis automáticos e
granadas no pescoço. Dava para ver
a polícia lá embaixo e o entra-e-sai
frenético na favela. "Bem-Te-Vi"
batia ponto todos os dias no local.
Quem não sabia?
Depois, um tal "Sassá" foi preso
em seus domínios na Maré, num
bunker com estoque de miojo, iogurte e muitas balas de verdade. Em
2004, foi a vez de "Gangan", antecessor de "Aritana", ser morto pela
polícia numa "mansão" no alto do
São Carlos, de onde controlava o
tráfico e colecionava namoradas e
bebidas finas.
Se eles sempre estiveram ali, por
que não foram encontrados antes?
Criminosos que aterrorizam o
Rio normalmente têm paradeiro
certo e até endereço. Mas são vistos
por maus policiais como galinhas
dos ovos de ouro e só são presos ou
mortos quando esgotam a produção da granja-ou ganham notoriedade demais. Aí, matam a galinha e
expõem suas vísceras.
Mais tarde, voltam ao galinheiro
e cevam outras poedeiras até que
uma vire a bola da vez. Um círculo
vicioso em que só muda o apelido
do "inimigo número um" da vez.
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