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ELIANE CANTANHÊDE
O caldo entornou
BRASÍLIA - O governo Lula, sinceramente, poderia dormir sem mais essa: a denúncia feita ontem pelo site
da revista "Veja" de que o presidente
do Banco Central, Henrique Meirelles, enviou dinheiro para doleiros
que são investigados no país.
Em favor de Meirelles, diga-se que
ele tem como justificar a origem do
dinheiro, que nem é tanto (pouco
mais de US$ 50 mil). Ou seja, ninguém suspeita que esteja envolvido
em tramóias e desvios. Mas a questão
é outra: ele está sendo obrigado, dia
sim, dia não, a dar explicações sobre
procedimentos pregressos. Nada edificante para um presidente do BC.
Alguém pode dizer que demitir
Meirelles seria hipocrisia, porque "todo rico faz isso", mas o presidente do
BC no governo do PT não tem o direito de sair por aí fazendo o que "todo
mundo faz". É mau exemplo. Deixar
isso pra lá é estimular o erro, a impunidade. Um "liberou geral".
O comando do governo se diz satisfeito com a nota de Meirelles e continua decidido a mantê-lo, como a
Cássio Casseb (BB) e a quem mais
vier. Para não transformar uma crise
ética numa crise política maior.
Para azar do governo, ou até por
falta de "simancol", a denúncia contra Meirelles saiu no mesmo dia da
notícia de que Lula encaminhou ao
Congresso um projeto de lei criando o
Conselho Federal de Jornalismo.
Uma espécie de poder para punir jornalistas que extrapolem suas funções
e, por exemplo, façam denúncias irresponsáveis, sem provas.
Há muito o que discutir sobre o mérito de uma medida assim sob o ponto de vista da imprensa e de fora da
imprensa, mas o que não dá para entender é a oportunidade, ou o oportunismo. O PT empenhar-se em criar
um conselho para punir jornalistas
nos governos Sarney, Collor, Itamar e
FHC teria credibilidade.
Mas criá-lo justamente agora que
os jornalistas divulgam denúncias
contra Meirelles, contra Casseb e contra o uso do Banco do Brasil para favorecer o PT? Não será um conselho
de jornalismo, mas, sim, um conselho
do PT contra os jornalistas.
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