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CLÓVIS ROSSI
Lula à direita, visto de longe
SÃO PAULO - Lee Chang-kyu, chefe dos correspondentes econômicos do
jornal coreano "JoongAng", resolveu
vir ao Brasil para matar sua "curiosidade sobre como um homem que fizera fama como líder de um sindicato radical girara suas políticas tão
completamente para a direita depois
de se tornar presidente". Desnecessário dizer que ele está falando de Luiz
Inácio Lula da Silva.
Chang-kyu ficou satisfeito com o
que viu, falou bem de Lula, mas não
deixou de compará-lo ao presidente
coreano Roh Moo-hyun, que teve lá
suas dificuldades na infância e juventude, mas não uma história tão
"tocante".
Resgato duas comparações:
1 - "Enquanto (o presidente) da Coréia está à esquerda do centro, a administração Lula está se movendo
para a direita do centro em face da
resistência e das críticas de alguns de
seus antigos apoiadores".
2 - "É espantoso como um ministro
de Finanças como esse (Palocci) e um
presidente do Banco Central como
esse (Meirelles) puderam durar tanto. Se fosse na administração Roh
Moo-hyun, eles nem teriam sido indicados, mas, se o tivessem sido, teriam sido demitidos anos atrás".
Não ficou claro se esta segunda
comparação é uma crítica ao coreano e um elogio ao brasileiro ou vice-versa. Mas a primeira mostra que
mesmo analistas independentes e suficientemente distantes do Brasil para falar dele com pouca paixão colocam o governo Lula à direita, já nem
no centro.
Ser de direita ou praticar políticas
de direita não é pecado. É verdade
que a direita sempre esteve no poder,
no Brasil como na América Latina, e
basta olhar a realidade para concluir
que sua obra não é exatamente brilhante, bem ao contrário. Mas dê-se a
ela o direito de continuar tentando
até aprender -e acertar.
O que é pecado é fingir que se continua sendo de esquerda, mesmo com
políticas "à direita do centro", para
ser piedoso. Já não enganam nem do
outro lado do mundo.
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