São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Lula à direita, visto de longe

SÃO PAULO - Lee Chang-kyu, chefe dos correspondentes econômicos do jornal coreano "JoongAng", resolveu vir ao Brasil para matar sua "curiosidade sobre como um homem que fizera fama como líder de um sindicato radical girara suas políticas tão completamente para a direita depois de se tornar presidente". Desnecessário dizer que ele está falando de Luiz Inácio Lula da Silva.
Chang-kyu ficou satisfeito com o que viu, falou bem de Lula, mas não deixou de compará-lo ao presidente coreano Roh Moo-hyun, que teve lá suas dificuldades na infância e juventude, mas não uma história tão "tocante".
Resgato duas comparações:
1 - "Enquanto (o presidente) da Coréia está à esquerda do centro, a administração Lula está se movendo para a direita do centro em face da resistência e das críticas de alguns de seus antigos apoiadores".
2 - "É espantoso como um ministro de Finanças como esse (Palocci) e um presidente do Banco Central como esse (Meirelles) puderam durar tanto. Se fosse na administração Roh Moo-hyun, eles nem teriam sido indicados, mas, se o tivessem sido, teriam sido demitidos anos atrás".
Não ficou claro se esta segunda comparação é uma crítica ao coreano e um elogio ao brasileiro ou vice-versa. Mas a primeira mostra que mesmo analistas independentes e suficientemente distantes do Brasil para falar dele com pouca paixão colocam o governo Lula à direita, já nem no centro.
Ser de direita ou praticar políticas de direita não é pecado. É verdade que a direita sempre esteve no poder, no Brasil como na América Latina, e basta olhar a realidade para concluir que sua obra não é exatamente brilhante, bem ao contrário. Mas dê-se a ela o direito de continuar tentando até aprender -e acertar.
O que é pecado é fingir que se continua sendo de esquerda, mesmo com políticas "à direita do centro", para ser piedoso. Já não enganam nem do outro lado do mundo.


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