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RUY CASTRO
Tsk, tsk
RIO DE JANEIRO - Nenhuma autoridade pode prevenir que um maluco pegue o carro e o jogue contra
um grupo de pessoas, fazendo um
strike humano, como aconteceu na
China nesta segunda-feira. Mas, no
que depender de informação e planejamento, os chineses estão tentando de tudo para evitar vexames
durante a Olimpíada. E o que não
faltam são determinações do governo a respeito de etiqueta, comportamento e até moda.
Para os homens, foi sugerido que
evitem circular de pijama pelas
ruas de Pequim, hábito arraigado
entre os chineses -aliás, comum
também em alguns subúrbios do
Rio até os anos 1950. E não adianta
que sejam pijamas de alamares, estampados de dragões, e que o cidadão esteja de cueca por baixo. A
medida foi tomada não por anti-higiênica, mas por antiestética.
Certas recomendações são até
poéticas: "o cabelo do homem não
deve cobrir as sobrancelhas, nem
tocar o colarinho"; "pessoas gordas
devem evitar roupas com listras
horizontais"; e "ambos os sexos devem comer alho com moderação".
São normas razoáveis, que até eu
pretendo seguir, principalmente a
primeira.
Os chineses são disciplinados e
adoram cumprir ordens, mas tudo
tem um limite. Os éditos proibindo
cuspir na rua, por exemplo, continuam inúteis -ninguém segue. Já
os protestos em praça pública podem ser feitos, desde que com tema, dia, hora, local e responsável
aprovados pela polícia.
Mais importante: o governo está
escondendo, com muros e painéis,
as partes de Pequim que considera
"feias", tipo cortiços ou zonas de
baixo comércio. O desfavorecido
abre a janela pela manhã e descobre que está sendo emparedado por
operários com proteção armada. A
Pequim olímpica, que deseja impressionar o mundo, fica do outro
lado do muro e não quer saber de
estrangeiros fazendo tsk, tsk.
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