São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANTONIO DELFIM NETTO

Falta dúvida

DIANTE DE uma inflação planetária, a situação brasileira é melhor que a da maioria dos países emergentes. Certamente melhor que a dos nossos "padrões" comparativos, os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China).


Em 2007, já tínhamos a menor taxa de inflação -e isso continua. Nosso aumento não parece destoar muito do dos outros, com exceção do da Índia, cujo índice não é rigorosamente comparável. O problema é que nossa taxa de juro real de curto prazo é hoje da ordem de 7% ao ano, a indiana é de 4,5% e a russa e a chinesa são negativas. Em compensação, nosso crescimento médio anual em 2006/07 foi de 4,6%, o russo, de 7,8%, o indiano, de 9,5%, e o chinês, de 11,3%. O aumento da inflação se vê também em países desenvolvidos.


Diante de tais números, nenhum economista pode aceitar sem alguma dúvida a hipótese de que nossa inflação é, "basicamente, produzida por um excesso de demanda". É bom lembrar o que disse Ben Bernanke a respeito da "expectativa inflacionária" buscada por nosso Banco Central: 1) para muitos economistas, ela é fundamental para a dinâmica inflacionária. Logo 2) seria muito útil saber como ela é influenciada pela comunicação da política monetária e, 3) como existe a possibilidade de aprendizado do público, é mais realista do que propõem os modelos de expectativa racional dos bancos centrais e gera conclusões mais razoáveis (do que eles) tentar aprender como a expectativa responde à ação e comunicação da política monetária.
A outra questão que ele levantou humildemente e deixou no ar foi: "como a expectativa inflacionária afeta a taxa de inflação, diante do embaraçoso fato resultante das pesquisas empíricas que revelam que a grande maioria dos empresários afirma não levá-la em conta no seu processo de precificação?".
O que tem faltado à nossa política monetária é essa humildade em reconhecer que sabemos muito pouco quando sugere que um dramático aumento da taxa de juro real será capaz de produzir, "tempestivamente", uma volta da expectativa inflacionária para 4,5% já no início de 2009 -sem indagar a que custo.


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Tsk, tsk
Próximo Texto: Frases

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.