|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAMPUS DE BATALHA
Pela segunda vez, foi o uso da
força que impediu, na Universidade de São Paulo, a apreciação pelo
Conselho Universitário de uma nova
proposta de regulamentação das
fundações que atuam em seu nome.
Força usada por estudantes, que bloquearam as entradas da reitoria e
ameaçaram repórteres.
Na noite anterior, a guarda universitária apreendera pneus e outros
materiais que seriam usados para
impedir o debate do tema no conselho. O reitor da USP, Jacques Marcovitch, decidiu evitar um confronto
maior com os estudantes e adiou o
exame da questão para o ano que
vem, quando, aliás, já não será reitor.
A inquietação estudantil tem causas legítimas. Há inúmeros casos,
nos últimos anos, de utilização fraudulenta ou mesmo privada do patrimônio da maior universidade pública do país. Há também dúvidas sobre os modos de distribuição dos recursos auferidos pelos projetos conduzidos pelas fundações ou mesmo
sobre o impacto de suas atividades
sobre a oferta de serviços públicos
(como o atendimento hospitalar).
No entanto, há uma radical inconsistência entre reconhecer a necessidade de mais debate e impedir, pela
violência, o próprio debate democrático, nas instâncias representativas
da universidade.
Mobilizar algumas dezenas de militantes para agredir professores e
destruir patrimônio público é inaceitável. Se o debate mais amplo é necessário, que se incentive o debate.
Os estudantes estão fazendo isso?
Felizmente não houve vítimas mais
graves e -desta vez- evitou-se a depredação. Mas é inaceitável esse autoritarismo de quem busca vitórias
pela força. Resta esperar que a campanha eleitoral para reitor e o tempo
sejam capazes de criar condições para um autêntico debate, democrático
e sem coação, sobre os limites e as
possibilidades trazidas pelas fundações para a melhoria da qualidade do
ensino e da pesquisa na universidade
pública brasileira.
Texto Anterior: Editoriais: VÔO TURBULENTO Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Holocausto em negro Índice
|