São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2001

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CAMPUS DE BATALHA

Pela segunda vez, foi o uso da força que impediu, na Universidade de São Paulo, a apreciação pelo Conselho Universitário de uma nova proposta de regulamentação das fundações que atuam em seu nome. Força usada por estudantes, que bloquearam as entradas da reitoria e ameaçaram repórteres.
Na noite anterior, a guarda universitária apreendera pneus e outros materiais que seriam usados para impedir o debate do tema no conselho. O reitor da USP, Jacques Marcovitch, decidiu evitar um confronto maior com os estudantes e adiou o exame da questão para o ano que vem, quando, aliás, já não será reitor.
A inquietação estudantil tem causas legítimas. Há inúmeros casos, nos últimos anos, de utilização fraudulenta ou mesmo privada do patrimônio da maior universidade pública do país. Há também dúvidas sobre os modos de distribuição dos recursos auferidos pelos projetos conduzidos pelas fundações ou mesmo sobre o impacto de suas atividades sobre a oferta de serviços públicos (como o atendimento hospitalar).
No entanto, há uma radical inconsistência entre reconhecer a necessidade de mais debate e impedir, pela violência, o próprio debate democrático, nas instâncias representativas da universidade.
Mobilizar algumas dezenas de militantes para agredir professores e destruir patrimônio público é inaceitável. Se o debate mais amplo é necessário, que se incentive o debate. Os estudantes estão fazendo isso?
Felizmente não houve vítimas mais graves e -desta vez- evitou-se a depredação. Mas é inaceitável esse autoritarismo de quem busca vitórias pela força. Resta esperar que a campanha eleitoral para reitor e o tempo sejam capazes de criar condições para um autêntico debate, democrático e sem coação, sobre os limites e as possibilidades trazidas pelas fundações para a melhoria da qualidade do ensino e da pesquisa na universidade pública brasileira.


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