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São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Grito dos excluídos

É um sim à vida. Significa a vontade de viver que está presente no mais recôndito de nosso ser. Os excluídos nem sempre têm condições de se expressar. Deve ser um Grito solidário, fruto do compromisso de fraternidade evangélica, que todos deveríamos assumir em benefício dos excluídos.
Não há dúvida de que a consciência da própria dignidade vai crescendo nos grupos desfavorecidos, assim como a progressiva superação do individualismo, abrindo-nos à vivência da co-responsabilidade em promover o bem do próximo.
A conversão para a solidariedade é um dos méritos deste Grito dos Excluídos, que se celebra no dia 7 de setembro desde 1994 e vem-se tornando sempre mais assumido no Brasil, despertando iniciativas concretas pessoais e o empenho em políticas públicas adequadas.
A cada ano se escolhe um tema que estreita os laços de fraternidade, a começar dos mais necessitados. Assim, o Grito assumiu a causa da vida, da justiça e da paz e atingiu a questão da dívida externa e da soberania nacional.
Neste ano de 2003, a insistência recai sobre a autonomia do país e a necessidade de salvaguardá-la das múltiplas dominações exercidas sobre a nossa pátria.
Na mesma perspectiva, é preciso recordar a conquista obtida em 2002, quando se realizou a consulta popular a respeito da Alca, Área de Livre Comércio das Américas. Na ocasião, o resultado foi surpreendente, pois 10 milhões de brasileiros responderam que o nosso governo não deve assinar o Tratado da Alca. Permanece, agora, a expectativa de que se realize o plebiscito oficial a fim de que todos os eleitores manifestem sua vontade quanto à Alca.
No entanto o compromisso com o bem comum, a partir dos excluídos, obriga-nos a repensar o nosso país e a realizar mudanças indispensáveis para que todos tenham acesso a condições de vida digna.
Assim, o Grito no dia da Pátria, deve traduzir o anseio sincero de um Brasil justo empenhado em promover os milhões de concidadãos que padecem miséria e fome, enfermidades, desemprego e analfabetismo.
O aspecto importante do Grito é o de suscitar a decisão pessoal de assumir a causa dos excluídos, e a própria responsabilidade na promoção do bem comum. O Grito tem, portanto, uma exigência de conversão pessoal diante de Deus e das injustiças sociais. De que adiantará associar-me ao aspecto ruidoso e externo do Grito, se isso não implicar o esforço para corrigir falhas pessoais e sociais graves, a começar da fome do povo?
Colocando em evidência as situações de maior carência, o Grito exige, no entanto, nunca endurecer o coração diante da necessidade espiritual e material do próximo. Pelo contrário, é preciso dispor-se a agir, unindo forças para colaborar no advento da sociedade que respeite e promova a dignidade de todos.
A iniciativa do Grito tem-se difundido por todo o Brasil e pelos países sul-americanos, fomentando o compromisso com o bem comum. Ao unirmo-nos para manifestar a solidariedade com os excluídos, é preciso deixar que o Grito ecoe dentro de nós e motive mudanças pessoais profundas.
O Grito dos Excluídos será sempre mais um sim à esperança e um apelo forte para a sociedade justa, solidária e fraterna que, com o auxílio divino, desejamos construir.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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