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CARLOS HEITOR CONY
O parto e o aborto
RIO DE JANEIRO - A comparação foi feita pelo próprio. Nos primeiros dias
de governo, Lula disse que funcionou
normalmente após o casamento, mas
teve de esperar nove meses para obter
o resultado, que era o seu primeiro
rebento. Ora -comentou ele-, se,
para uma criança nascer, foi preciso
esperar nove meses, para ver o governo produzir rebentos é necessário ter
calma e esperar os nove meses regulamentares.
Acontece que, no dia 1º de outubro,
o governo estará cumprindo o seu período de gestação e do fecundo ventre
de sua administração não há sinais
evidentes de parto iminente. Tem-se
a impressão de que houve um aborto
tardio que interrompeu o processo.
Ainda se discute se houve ou não a
necessária fecundação.
O nono mês chegou com setembro,
e a equipe parece estar nas preliminares, com ameaças de troca dos parceiros pela impotência de alguns e pela incompetência de outros. Em linhas gerais, a máquina reprodutora
do governo foi loteada de tal forma
que apenas 30% dos cargos estão entregues a técnicos, a profissionais do
setor. Os restantes 70% foram partidarizados de forma nunca vista nos
anais republicanos. (Estou citando
informes recentemente publicados.)
Em crônica anterior, lembrei o
exemplo dos franceses, que gostam de
levantar sua genealogias. E fiquei sabendo que, mesmo durante a Revolução, durante o Terror, com a guilhotina funcionando sem parar, o registro
civil, a máquina do Estado, continuava anotando nascimentos, casamentos e óbitos. O mesmo aconteceu
durante a ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial.
É evidente que os cargos de primeiro escalão ficaram entregues ao grupo que ocupava o poder, mas a espinha dorsal do Estado continuou na
mão dos profissionais, dos funcionários de sempre.
Mesmo sem provocar nenhuma revolução de cunho social ou econômico, o governo politizou a máquina de
tal forma que seu ventre ficou estéril.
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