São Paulo, domingo, 6 de setembro de 1998

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RECESSÃO OU RECESSÃO

Atualmente parecem nulas as chances de que a economia brasileira possa evitar uma recessão nos próximos meses. A recente notícia de que está crescendo nas transações do comércio varejista a tendência à utilização de taxas de juros pós-fixadas é apenas a ponta do iceberg, sinal de uma insegurança muito mais ampla a respeito dos destinos do país.
As fontes externas de financiamento secaram para o Brasil. No flanco interno, por sua vez, as contas do Estado permanecem fortemente desequilibradas. Evidencia-se mais uma vez, pois, que será imperioso cortar gastos públicos ou elevar a arrecadação de impostos nos próximos meses. É também provável que venham a ocorrer demissões também no setor público, iniciativa que se mostra politicamente mais factível uma vez transcorridas as eleições, tanto para presidente como para governadores.
Não haverá financiamento externo ou estímulos governamentais -gasto público; o ambiente suscita cautela extrema na concessão de crédito privado; com a crise global, os mercados externos tendem a se estreitar significativamente. A conjunção lamentável desses fatores indica que não há como deter uma desaceleração mais intensa da atividade econômica no futuro imediato.
Os sucessivos registros mensais de deflação, que apontam para uma inflação anual em torno de 1%, são outro sintoma de esfriamento do consumo. Mesmo que os juros não subam novamente, por si só a deflação torna a situação financeira de empresas e consumidores mais difícil.
Haverá recessão, assim. Discutível é somente a sua intensidade. Esta depende em primeiro lugar do desfecho mais -ou menos- dramático da crise nos mercados internacionais. A duração do ajuste recessivo, por outro lado, não depende apenas da conjuntura financeira global. Afinal, a própria credibilidade do governo federal e da economia brasileira dependem da rapidez com que se formulem correções na política econômica e nas tendências das contas fiscais e do balanço de pagamentos.
O cenário dos próximos meses estará portanto delimitado tanto pelas oscilações de humor dos investidores internacionais como pela disposição das autoridades para promover um forte ajuste econômico que recupere a credibilidade do país.



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