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Que venha o comunismo
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Já dá para parodiar a
famosa frase de Winston Churchill, segundo a qual a democracia é o pior
dos regimes, exceto os outros. Agora,
cabe dizer que o comunismo é o melhor dos sistemas, exceto para os países que o experimentaram.
Explico: 1 - O comunismo é uma droga, a começar pela supressão das liberdades públicas, o que, para o meu gosto, já é suficiente para desqualificá-lo
sem precisar mencionar qualquer outro defeito.
2 - Mas o comunismo embutia a promessa de uma utopia igualitária que,
embora na prática tenha se cumprido
muito parcialmente, poderia seduzir o
restante do mundo.
Por isso, os países centrais trataram
de preparar um colchão social que
amenizasse o caráter intrinsecamente
impiedoso do capitalismo.
3 - Nos países periféricos, a disputa
de influência entre a URSS e o Ocidente rendeu migalhas que, de todo modo, ajudaram a amortecer as dificuldades dos que pouco têm. Para estes,
algo é sempre algo.
4 - Com a falência do comunismo, o
capitalismo ficou livre para dar rédea
solta ao seu "saco de maldades".
Veja-se o caso da Indonésia. O Ocidente sustentou por 32 anos uma ditadura podre, apenas como dique de
contenção contra o comunismo. No
percurso, houve até desenvolvimento e
certos avanços sociais.
Agora, no entanto, quando o dique
de contenção não é mais necessário, o
"saco de maldades" levou a Indonésia
a um colapso de tal grandeza que o
mais recente estudo da ONU mostra
que, no ano que vem, 140 milhões dos
202 milhões de indonésios cairão
abaixo da linha de pobreza. Hoje, os
pobres são 75 milhões.
Parece evidente que o capitalismo só
não é selvagem quando há uma alternativa a ele. O que, aliás, nem é novidade. Shakespeare já fazia o rei Cláudio dizer, em "Hamlet", que "as loucuras dos grandes não devem ficar sem
vigilância". Hoje, estão.
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