|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Tenho dito
RIO DE JANEIRO - O lugar-comum carimbou o ato de votar como dever
cívico. Sendo dever, tornou-se obrigatório. Penso diferentemente: votar é
um direito cívico, mas não deve ser
obrigatório, pois nem sempre reivindicamos aquilo a que temos direito.
Exemplo: tenho o direito de fundar
uma religião, de ir para a Cinelândia
e de anunciar o fim dos tempos. Fiquem tranquilos, pois não usarei deste direito.
Sendo obrigatório, o voto arrebanha milhões de eleitores que não sabem, não gostam, não se incomodam
e, sobretudo, não estão preparados
para votar. Sobretudo numa eleição
complexa, em que cada cidadão terá
de escolher seis cidadãos que mal conhece, ou conhece por ouvir dizer, e
fazer deles seus representantes -representantes que nem sabem exatamente quem e o que representam.
Sendo facultativo, o voto seria mais
consciente, ninguém sairia de casa
para cumprir (às vezes de má vontade) uma obrigação da qual tem vaga
noção, mal sabendo distinguir um
deputado estadual de um federal, e,
em alguns casos, um governador de
um presidente da República.
Muito comum nas filas eleitorais a
perplexidade do cidadão que ali chega e não sabe em quem votar e como
votar, sobretudo agora, com a informatização do processo.
O voto facultativo seria, por definição, mais consciente. O obrigatório,
em muitíssimos casos, é um trambolho do qual o cidadão deseja logo se
livrar. A ida ao correio para justificar
a ausência em sua zona eleitoral é
outro trambolho que poderia ser evitado, se o voto fosse realmente livre.
Bem, apesar dessas considerações,
recolho-me em piedosa concentração
doméstica, pedindo aos deuses, aos
manes protetores da nação, que iluminem com suas luzes e graças os votantes e que das urnas de hoje saia
um Brasil melhor, mais justo e mais
saudável.
Como os oradores de sobremesa,
encerro a crônica com o afirmativo
"tenho dito!".
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O hoje e o amanhã Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: Avante, Brasil! Índice
|