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ELIANE CANTANHÊDE
O hoje e o amanhã
BRASÍLIA - Num quadro de indefinição, muitos petistas e não-petistas devem pensar, lá no íntimo, o que seria
melhor para Lula: manter-se como o
mito e preservar sua imagem para a
história ou arregaçar as mangas na
rotina desgastante da administração
de um país tão difícil e desigual?
A dúvida deve estar também na alma do próprio Luiz Inácio Lula da
Silva, que pegou um pau-de-arara,
virou líder sindical e está hoje disputando pela quarta vez a Presidência.
Será assaltado por uma angústia íntima, interior? O que é melhor: o Lula
mito ou o Lula presidente? O Lula vitrine ou o Lula vidraça?
O grande aliado de Lula é a expectativa negativa: será que ele vai dar
certo? Tem capacidade? E a falta de
experiência administrativa? E os estigmas do PT? Qualquer coisa que dê
certo já é uma vitória.
E o grande adversário é justamente
a expectativa positiva: será que tudo
vai ser diferente? Será que, com uma
vitória em primeiro turno, o Brasil
vai amanhecer diferente na segunda-feira e todos seremos felizes para todo
o sempre? Qualquer coisa que dê errado já é uma derrota.
No caso do segundo turno, novos
acordos políticos, grupos de indecisos,
estratégias. A eleição vira um pingue-pongue e, se for com o tucano José
Serra, o que é mais provável, o eleitorado estará finalmente entre dois pólos: oposição e governo.
Serra vai ter de se assumir governo,
FHC vai ter de entrar na campanha,
e os eleitores de Ciro e de Garotinho,
que se recusaram a ir para um lado
(oposição) ou outro (governo), vão
ter de finalmente optar pelo "menos
ruim". A dúvida com Lula é enterrar
ou não a última esperança. Com Serra, é desenterrar ou não a esperança
da era FHC.
O primeiro turno de 2002 entra para a história pela qualidade dos candidatos, grau de exigência dos eleitores, nova atitude da mídia e ausência
de denúncias de uso da máquina.
Que ganhe o melhor, no primeiro
ou no segundo turno. Hoje, tudo são
interrogações. Que daqui a dez anos
tenhamos uma certeza: votamos
bem, deu certo!
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