São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A energia que ninguém vê

GLEISI HOFFMANN

A maioria da população brasileira acha que a função de uma hidrelétrica, como a Itaipu Binacional, resume-se à produção de energia -o que já não é pouco quando tratamos da maior usina do planeta, que movimenta a quantia de U$ 2,5 bilhões ao ano e abastece as regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Até aí, o leitor não tem nenhuma razão para se envergonhar ou pensar que está desinformado. Antes de assumir um posto estratégico na Itaipu Binacional, eu não conhecia o potencial da empresa para o desenvolvimento e aplicação de projetos nas áreas social e de tecnologia da informação.
Este ano, em especial o segundo semestre, representa um período de significativas conquistas para Itaipu e para a sociedade brasileira. A concretização dos nossos projetos servirá como referência nacional e internacional, tanto para empresas do segmento privado quanto para outras estatais. Além disso, nos últimos anos recebemos dezenas de missões de engenheiros e técnicos chineses que se aprofundaram no nosso modelo de construção para erguer a usina de Três Gargantas, que já está em operação.


A maioria da população acha que a função de uma hidrelétrica, como a Itaipu, resume-se à produção de energia


Vamos listar alguns projetos.
Anunciamos a efetivação do primeiro pregão eletrônico bilíngüe de que se tem notícia. Durante um ano e meio, uma equipe de programadores e técnicos em informática do Banco do Brasil -empresa pioneira no desenvolvimento de programas para a aquisição de suprimentos pela internet- desenvolveu exclusivamente para a Itaipu softwares capazes de reunir, numa única negociação, em dois idiomas e num mesmo "espaço digital", fornecedores brasileiros e paraguaios. O pregão bilíngüe reduzirá de cem para menos de 30 dias o prazo de aquisição e entrega dos produtos; ou seja, estaremos desburocratizando o processo de compra e utilização de suprimentos.
O maior benefício do pregão está no impacto positivo sobre os custos, principalmente na manutenção da tarifa de energia elétrica. Também estimamos que, até dezembro, a democratização e a transparência dos processos de compra trarão redução média de 20% na aquisição de praticamente 100% dos itens consumidos pela usina -de papel a cabos ópticos. O percentual afetará positivamente o valor da conta de luz.
No plano social, dois projetos merecem destaque. Um deles é a distribuição de R$ 936 milhões em royalties para mais de 350 municípios brasileiros e paraguaios. Anualmente, a Itaipu Binacional reverte uma cifra respeitável do faturamento para as cidades que fazem parte da bacia do rio Paraná e foram atingidas pela formação do lago que margeia a hidrelétrica. Para muitos municípios, a verba representa mais de 50% do total da arrecadação anual. Havia dois anos a usina apenas destinava o recurso e não acompanhava a sua utilização. A partir de 2003 a empresa passou a informar às Câmaras Municipais e às comunidades dos municípios lindeiros ao lago sobre os valores de repasses de royalties. Assim, contribuímos para que a população acompanhe e cobre resultados da aplicação dos recursos.
Também cito, com orgulho, a nossa parceria com o Unicef pela efetivação do projeto Criança e Desenvolvimento Integral, que visa beneficiar 80 mil crianças do oeste paranaense com a distribuição de extenso material para instruir as mães sobre os cuidados essenciais com os filhos do período pré-natal aos seis anos de idade. Além de custear todos os kits, Itaipu formará e acompanhará cada passo dos 3.100 agentes comunitários que visitam e cobram resultados mensalmente de milhares de famílias beneficiadas.
Destaco ainda a nossa campanha pelo combate à exploração sexual infantil. Desenvolvemos e aplicamos uma campanha publicitária em todos os hotéis de Foz do Iguaçu, cidade que abriga a nossa usina e recebe milhões de turistas de todas as partes do mundo. A campanha, além de informar que o incentivo à prostituição -infantil ou adulta- é crime, instrui recepcionistas e funcionários de hotéis a não atenderem pedidos de hóspedes que eventualmente solicitarem informações a respeito da prática da prostituição.
Por fim, cito a nossa empreitada em benefício do riquíssimo parque aquático natural do Paraná. O projeto Cultivando Água Boa atinge e mobiliza milhares de pessoas, entre estudantes, profissionais de todos os tipos e cidadãos comuns, e ensina desde os cuidados básicos que o agricultor deve empregar na cultura orgânica de alimentos até a disseminação de campanhas pela preservação das nascentes dos rios.
Essa é a energia que ninguém vê.

Gleisi Hoffmann, 39, bacharel em direito, é diretora financeira executiva da Itaipu Binacional.


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