São Paulo, segunda-feira, 06 de novembro de 2000

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VINICIUS TORRES FREIRE

Meia dúzia de esmolas

SÃO PAULO - Duas ou três coisas que nós sabemos ou deveríamos saber sobre salário mínimo e fome (e que o show de ACM esconde e esquerdistas monotemáticos negligenciam):
1. Entre os aposentados que recebem o salário mínimo da Previdência, uns 10 milhões, dois terços são de gente do campo. Mas os 20% mais pobres do campo são os que menos têm idosos e aposentados na família;
2. Se na área rural o dinheiro do aumento das pensões da Previdência fosse gasto em programas tipo bolsa-escola, haveria menos fome e menos crianças sem instrução (não é uma sugestão, é um exemplo);
3. Sim, o salário mínimo reduz a pobreza. A aposentadoria rural passou a pagar o mínimo no campo miserável graças à tão maldita Constituição de 88. De resto, quando o mínimo aumenta, cresce a renda dos sem-carteira de trabalho, os mais pobres entre os que trabalham no Brasil. Mas e o pobre sem emprego?
4. Quem ganha até dois salários mínimos gasta 28% de seu dinheiro em impostos. Quem ganha mais de 30 mínimos contribui com 18%. Renda do capital paga menos imposto que renda do trabalho. Milhões passariam menos fome se essas relações fossem corrigidas, mas Pedro Malan mina a reforma tributária e anuncia com expressão postiça de anacoreta sombrio do Tesouro que metade dos 32 milhões de miseráveis do país ainda o será em 2015;
5. Centenas de municípios miseráveis e inviáveis foram criados na última década. Objetivo: pegar dinheiro do Fundo de Participação dos Municípios. O fundo e a Previdência são a maior fonte de renda de muita cidade do Norte-Nordeste. Mas o dinheiro do fundo acaba na mão dos menos pobres dos lugares pobres;
6. Programa de cesta básica não funciona, é caro, dá dinheiro para atravessador, rebaixa os beneficiados etc. Melhor dar o dinheiro que compra a cesta básica diretamente para os pobres. Não dão.
Enquanto isso, ACM pauta o debate sobre pobreza e a fleuma do tucanismo tecnocrático pisoteia as idéias de cidadania e solidariedade.



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