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VINICIUS TORRES FREIRE
Meia dúzia de esmolas
SÃO PAULO - Duas ou três coisas que nós sabemos ou deveríamos saber sobre salário mínimo e fome (e que o
show de ACM esconde e esquerdistas
monotemáticos negligenciam):
1. Entre os aposentados que recebem o salário mínimo da Previdência, uns 10 milhões, dois terços são de
gente do campo. Mas os 20% mais
pobres do campo são os que menos
têm idosos e aposentados na família;
2. Se na área rural o dinheiro do
aumento das pensões da Previdência
fosse gasto em programas tipo bolsa-escola, haveria menos fome e menos
crianças sem instrução (não é uma
sugestão, é um exemplo);
3. Sim, o salário mínimo reduz a
pobreza. A aposentadoria rural passou a pagar o mínimo no campo miserável graças à tão maldita Constituição de 88. De resto, quando o mínimo aumenta, cresce a renda dos
sem-carteira de trabalho, os mais pobres entre os que trabalham no Brasil. Mas e o pobre sem emprego?
4. Quem ganha até dois salários
mínimos gasta 28% de seu dinheiro
em impostos. Quem ganha mais de
30 mínimos contribui com 18%. Renda do capital paga menos imposto
que renda do trabalho. Milhões passariam menos fome se essas relações
fossem corrigidas, mas Pedro Malan
mina a reforma tributária e anuncia
com expressão postiça de anacoreta
sombrio do Tesouro que metade dos
32 milhões de miseráveis do país ainda o será em 2015;
5. Centenas de municípios miseráveis e inviáveis foram criados na última década. Objetivo: pegar dinheiro
do Fundo de Participação dos Municípios. O fundo e a Previdência são a
maior fonte de renda de muita cidade do Norte-Nordeste. Mas o dinheiro do fundo acaba na mão dos menos pobres dos lugares pobres;
6. Programa de cesta básica não
funciona, é caro, dá dinheiro para
atravessador, rebaixa os beneficiados etc. Melhor dar o dinheiro que
compra a cesta básica diretamente
para os pobres. Não dão.
Enquanto isso, ACM pauta o debate sobre pobreza e a fleuma do tucanismo tecnocrático pisoteia as idéias
de cidadania e solidariedade.
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