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MARTA SALOMON
Mudar para não mexer
BRASÍLIA - O velho e bom instinto de sobrevivência resolveu dar as cartas
no período pós-eleitoral. Além de resgatar a reforma política, a agenda
preparada pelo governo e seus aliados para o Congresso prevê a retomada da discussão sobre a independência do Banco Central.
Você pode desconfiar que os negociadores dessa agenda não têm assunto melhor do que temas aborrecidos e fadados ao debate interminável. É mais do que isso. Esses debates
voltam agora marcados pelo temor
de uma vitória da oposição em 2002.
Para não deixar dúvidas, o líder pefelista Inocêncio Oliveira tratou de
maldizer o financiamento público de
campanha, com o cândido argumento de que a proposta aumentaria o
poder de fogo dos petistas.
Tão emblemáticas desse temor foram as palavras ainda fresquinhas
do ex-presidente do Banco Central
Gustavo Franco. Ele defende que os
dirigentes do BC, com mandatos não
coincidentes com o do chefe do Planalto, passem a mandar absolutos na
política monetária.
Diz Franco que ""tudo funciona
bem se o presidente tem bom senso",
como lhe parece ser o caso de Fernando Henrique Cardoso. ""Mas, e se um
novo presidente muda as diretrizes?",
especula. Lança até as hipóteses de
que um sucessor queira o BC mergulhado no combate à pobreza ou fixe
um teto para os pagamentos de juros
sobre a dívida pública.
Seria um problemão, é o que ele sugere. Certamente tem o aval do que
chamamos de ""o mercado". Muita
gente no Palácio do Planalto concorda. O presidente do BC, Armínio Fraga, já disse que pretende levar a idéia
adiante. Sua equipe preparou um
modelo para livrar o BC da tutela do
Executivo e delegar muitas de suas
funções a três novas agências, que
cuidariam de fiscalizar os bancos, o
mercado de capitais e as seguradoras.
Na prática, o governo busca o que o
ministro Pedro Malan já propôs sem
muita audiência: um pacto em torno
da manutenção do núcleo da atual
política econômica qualquer que seja
o presidente eleito em 2002.
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