São Paulo, segunda-feira, 06 de novembro de 2000

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MARTA SALOMON

Mudar para não mexer

BRASÍLIA - O velho e bom instinto de sobrevivência resolveu dar as cartas no período pós-eleitoral. Além de resgatar a reforma política, a agenda preparada pelo governo e seus aliados para o Congresso prevê a retomada da discussão sobre a independência do Banco Central.
Você pode desconfiar que os negociadores dessa agenda não têm assunto melhor do que temas aborrecidos e fadados ao debate interminável. É mais do que isso. Esses debates voltam agora marcados pelo temor de uma vitória da oposição em 2002.
Para não deixar dúvidas, o líder pefelista Inocêncio Oliveira tratou de maldizer o financiamento público de campanha, com o cândido argumento de que a proposta aumentaria o poder de fogo dos petistas.
Tão emblemáticas desse temor foram as palavras ainda fresquinhas do ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco. Ele defende que os dirigentes do BC, com mandatos não coincidentes com o do chefe do Planalto, passem a mandar absolutos na política monetária.
Diz Franco que ""tudo funciona bem se o presidente tem bom senso", como lhe parece ser o caso de Fernando Henrique Cardoso. ""Mas, e se um novo presidente muda as diretrizes?", especula. Lança até as hipóteses de que um sucessor queira o BC mergulhado no combate à pobreza ou fixe um teto para os pagamentos de juros sobre a dívida pública.
Seria um problemão, é o que ele sugere. Certamente tem o aval do que chamamos de ""o mercado". Muita gente no Palácio do Planalto concorda. O presidente do BC, Armínio Fraga, já disse que pretende levar a idéia adiante. Sua equipe preparou um modelo para livrar o BC da tutela do Executivo e delegar muitas de suas funções a três novas agências, que cuidariam de fiscalizar os bancos, o mercado de capitais e as seguradoras.
Na prática, o governo busca o que o ministro Pedro Malan já propôs sem muita audiência: um pacto em torno da manutenção do núcleo da atual política econômica qualquer que seja o presidente eleito em 2002.


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