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CARLOS HEITOR CONY
Mário Covas
RIO DE JANEIRO - Não me alisto entre os admiradores das virtudes cívicas, administrativas e políticas do governador Mário Covas. Considero-o,
nesses departamentos específicos da
vida pública, um resíduo anacrônico
da velha UDN -responsável por
uma mentalidade pseudomoralista
que desaguou no movimento militar
de 64 e na ditadura subsequente, que,
paradoxalmente, o puniram.
Por isso mesmo, sinto-me à vontade
para expressar minha admiração e,
mais do que admiração, o meu carinho pela dignidade e sobranceria
com que ele enfrenta a doença que,
geralmente, derruba os caracteres
mais fortes.
Um transe doloroso para qualquer
um, que no caso dele transcende ao
episódio pessoal e coloca o indivíduo
no patamar mais nobre da condição
humana. Apesar de animal político,
com tudo de ruim que a classificação
abrange, Mário Covas revela-se um
homem fora de série na capacidade
de absorver um problema que nos coloca acima e além do grande enigma
da vida.
Não estou ao par do dia-a-dia de
sua administração, não saberia dizer
se é ou não é um bom governador.
Mas a personalidade forte com que
encara seu problema de saúde é comovente e serve de paradigma para
todos nós, que, mais cedo ou mais
tarde, deveremos enfrentar desafio
equivalente.
Contam que, num recreio do colégio de jesuítas, perguntaram a são
Luiz Gonzaga o que faria se soubesse
que iria morrer no minuto seguinte.
O santo respondeu: "Continuaria fazendo o que estou fazendo, brincando".
Mário Covas não está num recreio.
Governa o Estado mais poderoso do
Brasil. Tem responsabilidades enormes e intransferíveis. A nós todos, cabe apenas torcer para que ele vença
mais uma vez a doença. Pode estar
errado como administrador ou político. Mas como homem se ergue como um monumento de dignidade,
um exemplo que eleva a condição
humana.
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