São Paulo, segunda-feira, 06 de novembro de 2000

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CARLOS HEITOR CONY

Mário Covas

RIO DE JANEIRO - Não me alisto entre os admiradores das virtudes cívicas, administrativas e políticas do governador Mário Covas. Considero-o, nesses departamentos específicos da vida pública, um resíduo anacrônico da velha UDN -responsável por uma mentalidade pseudomoralista que desaguou no movimento militar de 64 e na ditadura subsequente, que, paradoxalmente, o puniram.
Por isso mesmo, sinto-me à vontade para expressar minha admiração e, mais do que admiração, o meu carinho pela dignidade e sobranceria com que ele enfrenta a doença que, geralmente, derruba os caracteres mais fortes.
Um transe doloroso para qualquer um, que no caso dele transcende ao episódio pessoal e coloca o indivíduo no patamar mais nobre da condição humana. Apesar de animal político, com tudo de ruim que a classificação abrange, Mário Covas revela-se um homem fora de série na capacidade de absorver um problema que nos coloca acima e além do grande enigma da vida.
Não estou ao par do dia-a-dia de sua administração, não saberia dizer se é ou não é um bom governador. Mas a personalidade forte com que encara seu problema de saúde é comovente e serve de paradigma para todos nós, que, mais cedo ou mais tarde, deveremos enfrentar desafio equivalente.
Contam que, num recreio do colégio de jesuítas, perguntaram a são Luiz Gonzaga o que faria se soubesse que iria morrer no minuto seguinte. O santo respondeu: "Continuaria fazendo o que estou fazendo, brincando".
Mário Covas não está num recreio. Governa o Estado mais poderoso do Brasil. Tem responsabilidades enormes e intransferíveis. A nós todos, cabe apenas torcer para que ele vença mais uma vez a doença. Pode estar errado como administrador ou político. Mas como homem se ergue como um monumento de dignidade, um exemplo que eleva a condição humana.



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