São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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A LÓGICA DE SHARON

A decisão do premiê de Israel, Ariel Sharon, de dissolver o Parlamento e convocar novas eleições dentro de uns 90 dias segue a lógica do "dividir para reinar".
As pesquisas de intenção de voto dão ao seu partido, o Likud (direita), uma boa vantagem sobre seus principais rivais, os trabalhistas (centro-esquerda). Marcando o novo pleito para fins de janeiro ou início de fevereiro, Sharon restringe as chances de os trabalhistas, que na semana passada abandonaram o gabinete de união nacional, crescerem fazendo oposição ao governo (o ideal, para os trabalhistas, seria que as eleições acontecessem em maio ou junho). O premiê ficaria assim, teoricamente, com uma preocupação a menos.
Sem ter de inquietar-se com os trabalhistas, Sharon ficaria livre para tentar anular a ação de seus rivais dentro do próprio Likud. O principal deles é o ex-premiê Binyamin "Bibi" Netanyahu, que deverá, nas próximas primárias do partido, desafiar a liderança de Sharon e assim ter a chance de voltar a ser primeiro-ministro. Bibi, vale notar, hoje defende posições ainda mais duras que as de Sharon, já visto fora de Israel como um linha-dura.
Aparentemente, Sharon acredita que, estando à frente do governo, conseguirá neutralizar Bibi. Tanto é assim que convidou o rival -e ele aceitou- para ocupar o Ministério das Relações Exteriores, que estava com o trabalhista Shimon Peres antes do rompimento da coalizão.
Ainda que a política israelense sempre reserve surpresas, ao que tudo indica o Likud surgirá, no início do próximo ano, como o partido vencedor. Em termos de negociações de paz, essa não é uma perspectiva muito animadora. Na melhor das hipóteses, Sharon vence e tudo permanece mais ou menos como está. Na pior, com Bibi, ganha e pode levar o governo ainda mais para a direita.


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