São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

A inflação e a Maria

SÃO PAULO - Pedro Parente, o chefe do Gabinete Civil da Presidência e da equipe de transição do governo Fernando Henrique, tem opinião bem semelhante à de Aloizio Mercadante (PT-SP), senador eleito e uma das vozes mais autorizadas do PT em matéria econômica.
Para ambos, o recorde de inflação em 27 meses (o 1,28% registrado pela Fipe em outubro) é, por enquanto, "uma bolha" que tende a dissolver-se se o dólar for derrubado.
"Se não houver indexação e se o câmbio ceder, ficará apenas um resíduo", diz (ou torce?) Mercadante, em linha com a opinião de Parente.
O senador eleito sabe que a pressão dos preços no atacado, muito forte, só não se transmitiu ao varejo na mesma intensidade "porque a atividade econômica é muito baixa".
Equivale a dizer que, se houver uma retomada da economia enquanto o dólar ainda estiver em um patamar muito elevado, o risco de contaminação é formidável.
Mesmo que a alta de preços seja apenas uma "bolha" , o fato é que há problemas no que o deputado do PT chama de "única grande conquista do governo FHC", qual seja o controle sobre a inflação.
De fato, até meados do ano, a agenda da campanha eleitoral (em tese um espelho do que preocupava o público) não incluía a inflação, tida como fera domada.
Agora, na antevéspera da posse do novo governo, sai um índice meio assustador, por se tratar do maior registro em mais de dois anos.
A única compensação, em meio ao formidável rol de sombras sobre a economia, é o fato de a economista Maria da Conceição Tavares ter saído do encontro de ontem com Lula dizendo-se "esperançosa".
Lembro-me de um telefonema dela, um par de anos atrás, em que ameaçava voltar a seu Portugal natal, tão desesperada andava. Se uma batalhadora de 72 anos se dá o direito à esperança, quem sou para contrariar esse furacão feito mulher?


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