|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
A inflação e a Maria
SÃO PAULO - Pedro Parente, o chefe do Gabinete Civil da Presidência e da
equipe de transição do governo Fernando Henrique, tem opinião bem
semelhante à de Aloizio Mercadante
(PT-SP), senador eleito e uma das vozes mais autorizadas do PT em matéria econômica.
Para ambos, o recorde de inflação
em 27 meses (o 1,28% registrado pela
Fipe em outubro) é, por enquanto,
"uma bolha" que tende a dissolver-se
se o dólar for derrubado.
"Se não houver indexação e se o
câmbio ceder, ficará apenas um resíduo", diz (ou torce?) Mercadante, em
linha com a opinião de Parente.
O senador eleito sabe que a pressão
dos preços no atacado, muito forte, só
não se transmitiu ao varejo na mesma intensidade "porque a atividade
econômica é muito baixa".
Equivale a dizer que, se houver
uma retomada da economia enquanto o dólar ainda estiver em um
patamar muito elevado, o risco de
contaminação é formidável.
Mesmo que a alta de preços seja
apenas uma "bolha" , o fato é que há
problemas no que o deputado do PT
chama de "única grande conquista
do governo FHC", qual seja o controle sobre a inflação.
De fato, até meados do ano, a agenda da campanha eleitoral (em tese
um espelho do que preocupava o público) não incluía a inflação, tida como fera domada.
Agora, na antevéspera da posse do
novo governo, sai um índice meio assustador, por se tratar do maior registro em mais de dois anos.
A única compensação, em meio ao
formidável rol de sombras sobre a
economia, é o fato de a economista
Maria da Conceição Tavares ter saído do encontro de ontem com Lula
dizendo-se "esperançosa".
Lembro-me de um telefonema dela,
um par de anos atrás, em que ameaçava voltar a seu Portugal natal, tão
desesperada andava. Se uma batalhadora de 72 anos se dá o direito à
esperança, quem sou para contrariar
esse furacão feito mulher?
Texto Anterior: Editoriais: A LÓGICA DE SHARON Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Micropolítica em ação Índice
|