São Paulo, sábado, 06 de novembro de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Poder, sombra, exílio

SÃO PAULO - "Vou exigir competência técnica, desempenho, um histórico de pessoas que não tenham problemas de nenhuma ordem. Também considero importante o critério político". Essa é Dilma Rousseff, falando a respeito do futuro ministério, sobre o qual, por ora, há apenas muita especulação.
Tomada ao pé da letra, a exigência é suficiente para barrar alguém como Antonio Palocci. Afinal, Dilma quer pessoas "que não tenham problemas de nenhuma ordem"...
Palocci poderia dizer que nem sequer se tornou réu no escândalo da violação do sigilo do caseiro Francenildo. É verdade. A Justiça no país é estranhamente cega.
Palocci é "market friendly". Por isso foi "anistiado" e reinserido no jogo político. Banqueiros e empresários o veem como uma ilha de terra firme no mar bravo do petismo. O perfil anfíbio, de petista atucanado, o mantém valorizado no mercado.
Seja como for, se Palocci não vier a ocupar um cargo central, como a Casa Civil, será por outras razões que não o fantasma do caseiro.
Sua presença no Planalto seria incômoda pela capacidade de projetar sombra sobre a presidente. Palocci seria rapidamente identificado como uma espécie de primeiro-ministro, um avalista do governo.
Mas isso, como já disse, são especulações. O fato até agora é que Dilma delegou a Palocci a tarefa de coordenar a transição -o que é uma indicação de que lhe está dando corda. Veremos até que ponto.
A principal fonte irradiadora de poder paralelo, no caso de Dilma, chama-se Lula -ele, sim, por tudo o que passou a representar, capaz de eclipsar a presidente eleita.
Talvez se deva apostar, por isso, não num rompimento, muitíssimo improvável, nem na mera subordinação dela, muito desconfortável para ambos, mas num progressivo afastamento cordial de Dilma em relação a Lula, algo que lhe permita ir respirando melhor com o tempo.
Se for assim, resta saber como Lula suportará o exílio no berço do sindicalismo, onde tudo começou.


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