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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Poder, sombra, exílio
SÃO PAULO - "Vou exigir competência técnica, desempenho, um
histórico de pessoas que não tenham problemas de nenhuma ordem. Também considero importante o critério político". Essa é Dilma
Rousseff, falando a respeito do futuro ministério, sobre o qual, por
ora, há apenas muita especulação.
Tomada ao pé da letra, a exigência é suficiente para barrar alguém
como Antonio Palocci. Afinal, Dilma quer pessoas "que não tenham
problemas de nenhuma ordem"...
Palocci poderia dizer que nem
sequer se tornou réu no escândalo
da violação do sigilo do caseiro
Francenildo. É verdade. A Justiça
no país é estranhamente cega.
Palocci é "market friendly". Por
isso foi "anistiado" e reinserido no
jogo político. Banqueiros e empresários o veem como uma ilha de terra firme no mar bravo do petismo. O
perfil anfíbio, de petista atucanado,
o mantém valorizado no mercado.
Seja como for, se Palocci não vier
a ocupar um cargo central, como a
Casa Civil, será por outras razões
que não o fantasma do caseiro.
Sua presença no Planalto seria
incômoda pela capacidade de projetar sombra sobre a presidente. Palocci seria rapidamente identificado como uma espécie de primeiro-ministro, um avalista do governo.
Mas isso, como já disse, são especulações. O fato até agora é que Dilma delegou a Palocci a tarefa de
coordenar a transição -o que é
uma indicação de que lhe está dando corda. Veremos até que ponto.
A principal fonte irradiadora de
poder paralelo, no caso de Dilma,
chama-se Lula -ele, sim, por tudo
o que passou a representar, capaz
de eclipsar a presidente eleita.
Talvez se deva apostar, por isso,
não num rompimento, muitíssimo
improvável, nem na mera subordinação dela, muito desconfortável
para ambos, mas num progressivo
afastamento cordial de Dilma em
relação a Lula, algo que lhe permita
ir respirando melhor com o tempo.
Se for assim, resta saber como
Lula suportará o exílio no berço do
sindicalismo, onde tudo começou.
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