São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

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VERGONHA AMBIENTAL

Deveria ser motivo de vergonha para os paulistanos constatar que, no início do século 21, o maior centro urbano sul-americano ainda recicla pífio 0,03% de todo o lixo que produz. Dispondo, há muito, de tecnologia e mão-de-obra para reaproveitar até 40% desse total, a inércia da cidade nesse quesito ambientalmente relevante só pode ser explicada pela inépcia de suas sucessivas administrações.
Um dos compromissos da prefeita Marta Suplicy é o de aumentar de forma relevante a reciclagem do lixo paulistano. E o seu projeto é dos mais interessantes entre outras razões porque pretende mobilizar uma massa de "catadores" organizados em cooperativas que hoje já exercem essa atividade por iniciativa isolada.
O problema é que esse projeto praticamente ainda não saiu do papel. O plano da Secretaria de Serviços e Obras era o de instalar sete centros de triagem de resíduos recicláveis até o fim deste ano. Mas apenas uma dessas unidades deverá ser finalizada proximamente, para ser inaugurada em janeiro. A administração alega dificuldades com o processo licitatório como fundamento para o atraso.
No projeto que prevê a criação de uma taxa específica para a coleta do lixo na capital, recentemente submetido à Câmara Municipal, estão previstos descontos para o cidadão que destina parte do seu lixo para a reciclagem. Sem embargo dos problemas subjacentes à implantação da nova taxa, esse estímulo econômico pode ser importante para induzir nas famílias o hábito da separação do lixo que produz, fundamental para a massificação da reciclagem.
O reaproveitamento dos resíduos sólidos proporciona evidentes ganhos ambientais para uma cidade do porte de São Paulo, cujas dificuldades para o armazenamento do lixo crescem exponencialmente. Além disso, a reciclagem pode ser articulada a programas sociais como os de renda mínima e de microcrédito, possibilitando a melhoria da qualidade de vida de muitas famílias hoje na pobreza. Passa da hora de São Paulo tratar o tema como prioridade.


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