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ELIANE CANTANHÊDE
Lula e a política externa
BRASÍLIA - O mais cotado para o Itamaraty é o embaixador Celso Amorim, diplomata que une o útil ao agradável: sólida formação teórica a
boa capacidade operacional; traquejo político a experiência em economia. E tem amigos no PT.
Se isso significa grandes reviravoltas na política externa, são outros
500. Uma aposta arriscada. Afinal,
Lula se elegeu com o discurso da mudança, mas falta combinar com o adversário: o mundo também vai mudar? E os EUA?
Lula tem dado alguns sinais. Pautou Aloizio Mercadante para falar
em "jogo duro" nas negociações com
os EUA, fez a primeira viagem para a
Argentina jogando fichas no Mercosul, subiu para o Chile e, depois de
Washington, vai passar duas horas
no México, só para deixar clara a
preferência pela América Latina.
Lula e seus conselheiros internacionais também miraram nos novos
embaixadores escolhidos por FHC
para acertar em três postos-chaves no
novo governo: China, Cuba e Venezuela. Esses três Lula quer para ele.
Ou seja, para a escolha do PT.
Os nomes de FHC foram, respectivamente, Marcelo Jardim, Dayrel de
Lima e Valdemar Carneiro Leão, todos considerados "cobras", no bom
sentido, dentro e fora do Itamaraty.
Leão, por exemplo, chefia o poderoso
Departamento Econômico.
Espera-se que Lula feche com êxito
seu primeiro giro internacional depois de eleito, faça um discurso altivo,
mas diplomático para George W.
Bush e escolha bem cada nome que
vai representar o Brasil lá fora. Piores
do que os já escolhidos não vale.
Até para ser bem assessorado. Por
mais liderança que o presidente brasileiro aspire no continente, não deve
nem pode sair por aí exigindo um
"presidente ético" para a Argentina.
Corresponde a chamar os que estão
lá até agora de -numa linguagem
bem amena- pouco éticos.
Como na economia e nas práticas
congressuais, falar em mudança na
campanha é fácil, fazer depois no governo é que são elas. Inclusive na intrincada e suscetível política externa.
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