São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Lula e a política externa

BRASÍLIA - O mais cotado para o Itamaraty é o embaixador Celso Amorim, diplomata que une o útil ao agradável: sólida formação teórica a boa capacidade operacional; traquejo político a experiência em economia. E tem amigos no PT.
Se isso significa grandes reviravoltas na política externa, são outros 500. Uma aposta arriscada. Afinal, Lula se elegeu com o discurso da mudança, mas falta combinar com o adversário: o mundo também vai mudar? E os EUA?
Lula tem dado alguns sinais. Pautou Aloizio Mercadante para falar em "jogo duro" nas negociações com os EUA, fez a primeira viagem para a Argentina jogando fichas no Mercosul, subiu para o Chile e, depois de Washington, vai passar duas horas no México, só para deixar clara a preferência pela América Latina.
Lula e seus conselheiros internacionais também miraram nos novos embaixadores escolhidos por FHC para acertar em três postos-chaves no novo governo: China, Cuba e Venezuela. Esses três Lula quer para ele. Ou seja, para a escolha do PT.
Os nomes de FHC foram, respectivamente, Marcelo Jardim, Dayrel de Lima e Valdemar Carneiro Leão, todos considerados "cobras", no bom sentido, dentro e fora do Itamaraty. Leão, por exemplo, chefia o poderoso Departamento Econômico.
Espera-se que Lula feche com êxito seu primeiro giro internacional depois de eleito, faça um discurso altivo, mas diplomático para George W. Bush e escolha bem cada nome que vai representar o Brasil lá fora. Piores do que os já escolhidos não vale.
Até para ser bem assessorado. Por mais liderança que o presidente brasileiro aspire no continente, não deve nem pode sair por aí exigindo um "presidente ético" para a Argentina. Corresponde a chamar os que estão lá até agora de -numa linguagem bem amena- pouco éticos.
Como na economia e nas práticas congressuais, falar em mudança na campanha é fácil, fazer depois no governo é que são elas. Inclusive na intrincada e suscetível política externa.


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