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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Um outro mundo

Que mundo podemos juntos construir? Há muita miséria e muita violência na história da humanidade. Não será possível um mundo diferente?
Sabemos que o universo não surgiu do nada. Nem seria admissível, à luz da razão, pois "do nada, nada vem". Desde toda a eternidade, Deus, o Ser Perfeito é. Dele, por amor, provêm, pela criação, todos os seres. As pessoas humanas somos, assim, criadas por Deus, que coloca no horizonte de nossa vida a felicidade na comunhão plena entre nós e com Ele. A história mostra, no entanto, que a liberdade humana enveredou por caminhos contraditórios. Ao lado das grandes virtudes e conquistas, como o amor e a dedicação ao próximo, a trajetória da humanidade ficou marcada pela cobiça, pelo ódio e pela cultura da morte.
A situação atual do mundo é fruto do confronto entre as liberdades, quando se misturam gestos de bondade e de doação com rivalidades, conflitos, frustração e desespero. Basta recordar os eventos do último século: grandes avanços científicos, como na medicina e nas comunicações, e, ao mesmo tempo, a inexplicável sucessão de guerras fratricidas, a invenção da bomba atômica, a prepotência militar das grandes nações e os atos de terrorismo.
Paira sobre nós a incerteza sobre o futuro devido às decepções do início do milênio, atingido por inúmeros atentados contra a vida e a paz. Outro mundo é necessário.
Precisamos reencontrar Deus e o seu projeto de felicidade. É nesse contexto que a fé cristã nos ilumina e revela a vinda de Jesus, Filho de Deus, em nossa história. Veio para vencer o mal e abrir caminhos de vida plena para a humanidade.
O tempo litúrgico do Advento, neste mês de dezembro, propõe de novo a surpreendente entrada de Jesus em nosso meio, anunciando o Evangelho da Salvação. Proclama a reconciliação e a felicidade oferecidas por Deus, que perdoa o pecado e nos ajuda já nesta vida a promover a convivência humana na concórdia e na paz.
Diante dos graves desafios, precisamos abrir o coração e acolher os ensinamentos e os auxílios que Jesus Cristo ofereceu à humanidade.
A miséria e a fome podem ser superadas se nos educarmos para a fraternidade que nos levará a partilhar o pão com os irmãos. Temos de eliminar a cobiça, a acumulação doentia de bens, a disparidade social e a corrupção com atitudes de solidariedade fraterna, assegurando a todos o conveniente para a vida.
Jesus Cristo nos manifesta que, no Reino de Deus, somos todos irmãos, sem exclusão, abolindo barreiras e distâncias. Revela-nos a força do amor que é capaz de perdão. Só assim será possível vencer o ódio e construir a paz. Para conseguir alimento para a humanidade e fazer que cesse a violência urbana, rural e dos conflitos armados, são necessárias leis adequadas, políticas públicas e acordos internacionais. No entanto há algo mais profundo e indispensável. É reconhecer a prioridade da presença de Deus, fundamento da dignidade de cada pessoa, de justiça e de paz. Sem Deus não conseguiremos construir o outro mundo que queremos.
É preciso acolher com fé e alegria o desígnio divino, que nos salva pela entrada de seu Filho Jesus na história. Ele vem e oferece ao mundo, na fome a na violência, a lição do amor, da partilha e do perdão. Se aprendermos a amar como Cristo nos ensina, então, outro mundo será possível.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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