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CARLOS HEITOR CONY
A nova direita
RIO DE JANEIRO - Um filme francês antigo termina numa baita confusão, sacristão fugindo com a mulher
do delegado, todos roubando de todos, nem o vigário escapa, nem as
virgens, nem os devassos. Surge então
um personagem que constata o óbvio
e grita para si mesmo: "Uma onda de
demência varre Clochemerle!".
Em linhas gerais, pode-se aplicar
esse final a todo um continente, quiçá
(em homenagem ao Benedito Valadares) ao mundo todo. Mas na Europa, sobretudo, há uma onda de insânia que está alimentando, por tortuosos caminhos ideológicos, o ideário não apenas da extrema direita
mas de algumas forças daquilo que
costumam chamar de "centro".
É o horror ao imigrante, ao ex-colonizado pela própria Europa que adquiriu sua liberdade política, mas está longe de se auto-sustentar. Turcos
na Alemanha, africanos do sul, do
centro e do norte na Comunidade
Européia, asiáticos e até mesmo considerável massa de latino-americanos desabam de todas as formas,
principalmente as ilegais, nos países
da economia estabilizada ou em crescimento, a maioria deles ex-colonizadores.
Tal como nos Estados Unidos, que
gradativamente reservaram para
seus cidadãos os andares superiores
da pirâmide social, deixando a mão
de obra para os novos escravos do sistema capitalista, na Europa o mesmo
está acontecendo, criando o paradoxo que alimenta as reivindicações da
nova direita.
De um lado, a necessidade de abrir
a porteira do mercado de trabalho
para os que chegam massivamente
em busca de empregos e da sociedade
do bem-estar. De outro, o inchamento demográfico dos guetos que se vão
criando nas grandes cidades, misturando religiões, costumes e comportamentos que ameaçam as tradições
que formam o núcleo do pensamento
conservador.
Na França, na Itália, na Espanha,
na Alemanha e até mesmo em Portugal, pouco a pouco, aumenta o número de saudosistas dos regimes que
pregavam a pureza racial.
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