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TENDÊNCIAS/DEBATES
O Índice de Desenvolvimento do Ensino Superior é um bom projeto?
SIM
Avaliação e compromisso social
CARLOS ROBERTO ANTUNES DOS SANTOS
Nos últimos meses, criou-se uma
falsa polêmica em torno da avaliação do ensino superior que não cabe
aqui retomar, agora que o MEC já concluiu a formulação de sua proposta.
Não temos a ilusão, com a síntese a
que chegamos, de haver superado a polêmica que envolve a questão, até porque por trás da falsa polêmica sobre a
concepção da avaliação está a real polêmica sobre a concepção do ensino superior. A velha concepção de ensino como
relação mercadológica luta para sobreviver, mantendo pelo menos seus símbolos mais significativos. Emerge e ganha força, todavia, uma concepção social e estratégica de ensino superior que
tem no sistema de avaliação proposto
uma de suas expressões.
Uma nova realidade está posta. Encerramos o ano de 2003 com aproximadamente 2.000 instituições de ensino superior. Dessas, cerca de 90% são de responsabilidade da iniciativa privada, resultado da avassaladora expansão dos
últimos cinco anos. Em determinados
Estados, segundo dados do censo de
2002, a oferta de vagas ultrapassa o número de concluintes do ensino médio,
como é o caso do Rio de Janeiro, com
245 mil vagas para 192 mil concluintes.
É indiscutível que formar profissionais competentes é e continuará sendo
uma das principais funções da universidade. Ela, porém, não é a única. Qual é o
papel social dessas instituições? Qual é
sua inserção na comunidade? Quais são
as suas responsabilidades para com o
desenvolvimento da sua região? Como
contribuem para um projeto de desenvolvimento nacional? Qual é seu compromisso com a erradicação da exclusão social, do analfabetismo, da miséria? Ali se formam profissionais apenas
ou profissionais comprometidos com
as questões sociais? Tais instituições estão produzindo novos conhecimentos
ou só transmitindo velhos conhecimentos? A quem servem esses conhecimentos produzidos ou transmitidos?
Essas e outras são as qualidades que as
necessidades do país exigem de suas
instituições de ensino superior, sejam
elas públicas ou privadas, e que foram
reafirmadas no Seminário Internacional Universidade XXI. São esses os parâmetros que definem a boa ou a má
qualidade de uma instituição e que, portanto, devem ser objeto de avaliação. A
grande questão atualmente é que não
basta avaliarmos apenas o desempenho
do estudante para termos uma real dimensão da qualidade. Um instrumento
que avalie somente o aluno, transformando-o ao mesmo tempo em produto
e consumidor, não nos dará um referencial seguro de qualidade.
Se até há pouco tempo predominou
um determinado conceito de ensino superior, que o tratava exclusivamente como relação de mercado, hoje faz-se necessário um salto de qualidade. Não é
suficiente tratarmos a educação como
um serviço. Precisamos questionar a relevância estratégica que esse ensino desempenha na formação de uma nação
soberana, independente e solidária. Para tanto, necessitamos de um sistema de
avaliação, não só de instrumentos isolados. A universidade não deve apenas
desenvolver habilidades nos indivíduos
que forma; ea deve, acima de tudo, agregar valores sociais e éticos.
Este foi o grande desafio ao qual o
MEC se lançou desde o início deste ano:
constituir um sistema de avaliação, coerente e integrado, que responda a todas
essas exigências. Um sistema que nos
permita avaliar o real atendimento de
demandas enormes e inadiáveis, mas
que leve em consideração a diversidade
do sistema nacional de ensino superior.
Para tanto, constituímos uma comissão
de especialistas de alto nível, que, após
exaustivos estudos e inúmeras audiências públicas, apresentou-nos o Sinaes.
Concluído o trabalho da comissão, submetemos por três meses a proposta ao
debate público, que resultou na proposta apresentada nesta semana, pelo ministro Cristovam Buarque, no Senado
Federal, intitulada Ides (Índice de Desenvolvimento do Ensino Superior).
Em sua essência, ela guarda os princípios do Sinaes, que é uma visão sistêmica da avaliação, com prioridade à avaliação institucional. Agrega, no entanto,
as sugestões e melhorias que emergiram
nesses três meses de debate.
Temos a plena convicção de que estamos dando um significativo salto de
qualidade para o ensino e para o país.
Carlos Roberto Antunes dos Santos é secretário de Educação Superior do Ministério da Educação. Foi reitor da Universidade Federal do Paraná.
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