|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TUDO PELO SOCIAL
O bordão a que se refere o título deste editorial foi a principal
marca da propaganda do governo José Sarney (1985-1989). Ele refletia um
antigo anseio da sociedade brasileira
-o de atacar o flagelo da pobreza e
da concentração de renda-, renovado após a redemocratização. A frase
automaticamente vem à mente depois das primeiras manifestações
propriamente executivas do governo
de Luiz Inácio Lula da Silva.
Parece que, mais que prioridade da
gestão, o "social" vai-se tornando
um termo capaz de justificar qualquer medida que interfira na destinação de recursos federais. Na sexta-feira, dia da primeira reunião ministerial, confirmou-se a notícia, já veiculada pouco antes, de que Lula decidiu adiar a licitação para a compra de
novos jatos para a Força Aérea Brasileira. A justificativa oficial foi a de que
os recursos seriam mais bem utilizados no combate à fome. Mas deixar
de realizar a compra não significa liberar recursos para o Fome Zero.
O segundo emprego exagerado do
"social" foi dado pelo ministro dos
Transportes, Anderson Adauto (PL),
que suspendeu todas as licitações para obras de infra-estrutura em transportes. Declarou que a prioridade do
novo governo são ações sociais, e
não a construção de novas rodovias.
Mais tarde disse que tapar buracos
das estradas era uma ação social.
Essas duas passagens podem ser
enquadradas numa trajetória que
vem desde a campanha petista pela
Presidência: trata-se da tentativa de
dissimular o balanço de prejudicados e beneficiados pela ação do governo. As Forças Armadas, bajuladas
pelo então candidato petista, por certo não estão contentes com o adiamento da compra dos caças. Tampouco os concorrentes nas licitações
da FAB e de novas estradas estão satisfeitos com a sua involuntária contribuição para o "social".
Talvez a renovação implícita do
mote "tudo pelo social" tenha apenas sucedido, nesse início de governo, o "paz e amor" que prevaleceu na
campanha. Se este emplacou, atribuir toda e qualquer mudança nos
gastos públicos a necessidades sociais já deu mostras suficientes de
que não convence.
Texto Anterior: Editoriais: OTIMISMO CAUTELOSO Próximo Texto: Editoriais: IMPASSE CONSAGRADO
Índice
|