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ROGÉRIO GENTILE
Justiça seja feita
SÃO PAULO - Nelson Jobim, afinal, fará um bem ao país se realmente
deixar o Supremo Tribunal Federal
no mês de março. Político que se vestiu de juiz sem jamais mudar de profissão, não merece o cargo que ocupa.
Jobim foi obra do presidente Fernando Henrique Cardoso, que achava necessário ter um advogado no
STF. Hoje, seguindo a regra de que,
na política, a ocasião faz o aliado,
passou a ter grandes afinidades com
Luiz Inácio Lula da Silva.
Não por outro motivo continua a
ser chamado em Brasília de o "líder
do governo no Supremo". Sei bem,
como filho e neto de juízes, o quanto
um apelido desses envergonha a verdadeira magistratura.
Ex-deputado federal e ex-ministro
da Justiça de FHC, Jobim tem em seu
currículo um episódio lamentável, revelador de seus princípios. Em 1988,
então constituinte, participou de
acordo pelo qual foram incluídos no
texto final da Carta artigos que não
haviam sido votados.
Embora benéfica, a saída de Jobim
do Supremo não deixará de ser traumática para o Poder Judiciário. Sua
motivação resume-se a mais uma politiquice -o ministro quer disputar a
eleição de outubro.
Dizem que o presidente do Supremo sonha com a possibilidade de eleger-se presidente da República, mas
acreditar nisso seria subestimar a sua
inteligência. Jobim, a bem da verdade, teria dificuldades até para ganhar
a disputa ao Senado pelo Rio Grande
do Sul, seu Estado.
De fato, o que o ministro negocia há
meses com interlocutores de Lula é o
lugar de José Alencar na chapa de
reeleição. Quer ser o novo vice-presidente do Brasil numa coligação entre
o PT e possivelmente o PMDB.
Deseja tanto o cargo que não descarta até mesmo a possibilidade de
concorrer ao Palácio do Jaburu em
aliança com um outro amigo presidenciável, só que tucano, o prefeito
José Serra. O poder, como já se disse, é
realmente afrodisíaco.
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