São Paulo, sábado, 07 de janeiro de 2006

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ROGÉRIO GENTILE

Justiça seja feita

SÃO PAULO - Nelson Jobim, afinal, fará um bem ao país se realmente deixar o Supremo Tribunal Federal no mês de março. Político que se vestiu de juiz sem jamais mudar de profissão, não merece o cargo que ocupa.
Jobim foi obra do presidente Fernando Henrique Cardoso, que achava necessário ter um advogado no STF. Hoje, seguindo a regra de que, na política, a ocasião faz o aliado, passou a ter grandes afinidades com Luiz Inácio Lula da Silva.
Não por outro motivo continua a ser chamado em Brasília de o "líder do governo no Supremo". Sei bem, como filho e neto de juízes, o quanto um apelido desses envergonha a verdadeira magistratura.
Ex-deputado federal e ex-ministro da Justiça de FHC, Jobim tem em seu currículo um episódio lamentável, revelador de seus princípios. Em 1988, então constituinte, participou de acordo pelo qual foram incluídos no texto final da Carta artigos que não haviam sido votados.
Embora benéfica, a saída de Jobim do Supremo não deixará de ser traumática para o Poder Judiciário. Sua motivação resume-se a mais uma politiquice -o ministro quer disputar a eleição de outubro.
Dizem que o presidente do Supremo sonha com a possibilidade de eleger-se presidente da República, mas acreditar nisso seria subestimar a sua inteligência. Jobim, a bem da verdade, teria dificuldades até para ganhar a disputa ao Senado pelo Rio Grande do Sul, seu Estado.
De fato, o que o ministro negocia há meses com interlocutores de Lula é o lugar de José Alencar na chapa de reeleição. Quer ser o novo vice-presidente do Brasil numa coligação entre o PT e possivelmente o PMDB.
Deseja tanto o cargo que não descarta até mesmo a possibilidade de concorrer ao Palácio do Jaburu em aliança com um outro amigo presidenciável, só que tucano, o prefeito José Serra. O poder, como já se disse, é realmente afrodisíaco.


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