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IGOR GIELOW
Fora dos eixos
BRASÍLIA - A eleição de Evo Morales como presidente da Bolívia, talvez a
coisa mais "bolivariana" que Hugo
Chávez patrocinou desde que se consolidou como emir petrolífero da
América do Sul, colocou o Brasil numa situação delicada. Não menos
porque o presidente Lula apoiou o líder cocaleiro.
Imediatamente, Morales e Chávez
se uniram a Fidel Castro para lançar
um certo "eixo do bem", contraposição aos malvados broncos que ocupam a Casa Branca, invadem países
ricos em hidrocarbonetos e tacham
todos os que não rezam por sua cartilha de integrantes do "eixo do mal".
Não dá. Uma coisa é ser crítico aos
EUA, outra é ser pueril.
Felizmente, o Brasil não embarcou
nessa. Pelo menos é o que se lê nas palavras do chanceler Celso Amorim,
que afirmou pretender usar o peso regional brasileiro para "amortecer" a
agressividade de Morales.
Na verdade, o Brasil está preocupado com os negócios da Petrobras com
o gás boliviano, que correm riscos caso Morales resolva bancar o durão.
Mas a temperança, num momento
em que o Itamaraty está transbordando de soberba pelo destaque (não
perguntem o resultado, pois é incerto) de Amorim nas negociações da
Rodada Doha, é ótima notícia.
O governo vive uma relação ciclotímica com seus "hermanos" mais radicais. Ora dá um gelo em Chávez,
que, montado em barris de petróleo,
tem vôo próprio, ora o adula. Isso
quando não escorrega, como quando
Lula e Chávez se uniram num ataque
às "elites golpistas".
Com Morales, Chávez ganha um
aliado com o mesmo ativo: energia.
Além disso, suas hostes podem crescer
com a eventual vitória do militar
amalucado Ollanta Humala na disputa pela Presidência do Peru.
Assim, o governo está diante de um
jogo complexo, que inclui administrar eventuais bobagens que Lula fale
no palanque e, ao mesmo tempo, não
engrossar a campanha antiamericana regional -a posse de Morales, no
dia 22, é um bom teste. Até porque
tem muito mais a perder que seus
amigos "bolivarianos".
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