São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Investigar é a chave

SÃO PAULO - Na formidável cacofonia sobre segurança pública que se seguiu ao assassinato do prefeito Celso Daniel, amplificada pelo caso do publicitário Washington Olivetto, debate-se a suposta ou real brandura das penas no Brasil.
Brandura ainda mais criticada pelo fato de os sequestradores estrangeiros do empresário Abílio Diniz terem sido extraditados. Como há alguma semelhança nos perfis dos criminosos do caso Diniz e, agora, do caso Olivetto, surgiu a teoria de que o segundo sequestro teria sido estimulado pelo fato de ter havido a extradição no primeiro.
É uma teoria atraente, mas que não resiste a uma olhada mais atenta. Vários especialistas já ensinaram, neste mesmo jornal, que, para o criminoso, o tamanho da pena conta muitíssimo menos do que a possibilidade de ser apanhado.
Ora, as chances de alguém ser preso por sequestro (ou por qualquer outro crime) em São Paulo aproximam-se de zero. Há estudos que mostram que apenas 4% dos casos policiais são esclarecidos no Estado.
Parece mais lógico supor que os sequestradores de Olivetto agiram com base na premissa do risco quase zero de prisão. Ainda mais que o sequestro do publicitário ocorreu antes da morte de Celso Daniel e, por extensão, antes de uma mobilização policial sem precedentes.
Tão sem precedentes que casos não registrados na mídia ficam sem a menor atenção, como se queixa o leitor Carlos Humberto Ferreira, vítima de sequestro relâmpago no dia 16 de janeiro. Ele conta que o celular roubado no ato foi usado para fazer chamadas, mas, até agora, passados mais de 20 dias, a polícia não se dignou a investigar se os proprietários dos números chamados têm ou não algo a ver com o crime.
É bom dizer que nada tenho contra a cacofonia em torno da segurança. O problema é não permitir que ela fuja do foco. E um dos focos principais é óbvio: ou a polícia ganha capacidade (e vontade) de investigar a criminalidade ou não se irá muito longe nessa matéria.


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