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CLÓVIS ROSSI
Investigar é a chave
SÃO PAULO - Na formidável cacofonia sobre segurança pública que se
seguiu ao assassinato do prefeito Celso Daniel, amplificada pelo caso do
publicitário Washington Olivetto, debate-se a suposta ou real brandura
das penas no Brasil.
Brandura ainda mais criticada pelo fato de os sequestradores estrangeiros do empresário Abílio Diniz terem
sido extraditados. Como há alguma
semelhança nos perfis dos criminosos
do caso Diniz e, agora, do caso Olivetto, surgiu a teoria de que o segundo
sequestro teria sido estimulado pelo
fato de ter havido a extradição no
primeiro.
É uma teoria atraente, mas que
não resiste a uma olhada mais atenta. Vários especialistas já ensinaram,
neste mesmo jornal, que, para o criminoso, o tamanho da pena conta
muitíssimo menos do que a possibilidade de ser apanhado.
Ora, as chances de alguém ser preso
por sequestro (ou por qualquer outro
crime) em São Paulo aproximam-se
de zero. Há estudos que mostram que
apenas 4% dos casos policiais são esclarecidos no Estado.
Parece mais lógico supor que os sequestradores de Olivetto agiram com
base na premissa do risco quase zero
de prisão. Ainda mais que o sequestro do publicitário ocorreu antes da
morte de Celso Daniel e, por extensão, antes de uma mobilização policial sem precedentes.
Tão sem precedentes que casos não
registrados na mídia ficam sem a menor atenção, como se queixa o leitor
Carlos Humberto Ferreira, vítima de
sequestro relâmpago no dia 16 de janeiro. Ele conta que o celular roubado no ato foi usado para fazer chamadas, mas, até agora, passados
mais de 20 dias, a polícia não se dignou a investigar se os proprietários
dos números chamados têm ou não
algo a ver com o crime.
É bom dizer que nada tenho contra
a cacofonia em torno da segurança.
O problema é não permitir que ela
fuja do foco. E um dos focos principais é óbvio: ou a polícia ganha capacidade (e vontade) de investigar a
criminalidade ou não se irá muito
longe nessa matéria.
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