São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Essa, não!

BRASÍLIA - Justiça seja feita: de um jeito ou de outro, os crimes contra o promotor Francisco José Lins do Rego Santos, de Minas, o publicitário Washington Olivetto, de São Paulo, e o prefeito Celso Daniel, de Santo André, estão sendo desvendados -e muito mais rapidamente do que se supunha. Até um dos bandidos que fugiram da prisão de helicóptero já foi agarrado.
Que a Justiça se faça agora também contra os criminosos. E isso significa, por exemplo, não embalar a fantasia de crime político para o sequestro de Olivetto. O bando chileno não passa disso: um bando comum, de bandidos incomuns.
Se o líder participou de atentados políticos contra Pinochet nas décadas de 70 e 80, problema deles lá no Chile. Aqui no Brasil, ele sequestrou e poderia ter matado o brasileiro Olivetto. Que não é chileno nem marechal nem ditador. Ao que se saiba, nem compactua com ditaduras.
Considerar o sequestro do publicitário como crime político seria como vincular o Comando Vermelho do Rio à luta pela libertação do Timor Leste, ou o traficante Escadinha à revolução na Nicarágua. Tenha dó!
Conforme explica a leitora Cleide Schmid, dourar o crime comum com a pílula de político é a melhor saída (em vários sentidos) para os criminosos. Além de permitir a questionável extradição dos autores para seus países de origem, como ocorreu com os sequestradores do empresário Abílio Diniz, o "crime político" pode livrar o autor de processo por crime hediondo. Estranho, mas real.
Para dar um fecho de ouro às investigações de todos esses crimes que abalaram e abalam o Brasil, faltam inquéritos bem amarrados, penas duras e duas coisas fundamentais: a conclusão sobre as mortes de Celso Daniel e do também prefeito Toninho do PT, de Campinas, com a prisão dos responsáveis.
Com dois cuidados adicionais: evitar que o PT tenha piedade de sequestradores estrangeiros e que a coisa chegue de alguma forma ao Supremo Tribunal Federal, caindo nas mãos (e no "rigor legal") daquele ministro... Você sabe quem.


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