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ELIANE CANTANHÊDE
Começou bem...
BRASÍLIA - Na reabertura do ano
legislativo, ontem, no plenário da
Câmara, a ministra Dilma Rousseff
entrou muda e saiu calada, o ex-CPI
dos Correios Osmar Serraglio leu a
mensagem de autopromoção do governo, a presidente do STF, Ellen
Gracie, esforçou-se para dizer que a
Justiça é justa e quem mais brilhou
-por incrível que pareça- foi o
presidente-tampão do Senado, Garibaldi Alves Filho.
Em discurso que não acabava
mais, atacou as MPs, a Constituição, o Judiciário, o Orçamento e o
Congresso: "É inadiável propormos
à nação medidas que levem ao saneamento ético da prática política e
partidária no Brasil!".
Poucos, porém, deram bola. O
plenário, esvaziado depois do recesso e do Carnaval (ninguém é de
ferro...), dividia um pensamento
único e uma agitação múltipla: a
criação, ou melhor, o anúncio da
criação de uma CPI para investigar
a farra dos altos escalões com o dinheiro público, a partir do escândalo dos cartões corporativos.
Conforme o frasista Heráclito
Fortes, do DEM, "ninguém prestou
a menor atenção aos discursos, só o
Marco Maciel e o Valdir Raupp".
Uma ironia com o certinho Maciel e
com a condição de Raupp, líder do
PMDB no Senado. Será que ele quer
mesmo a tal CPI?
Aliás, essa é a dúvida: quem quer?
Foi a oposição quem ameaçou, mas
foi o próprio líder do governo, Romero Jucá, quem formalizou o pedido, especificando o período de
1998 a 2008 (de FHC a Lula). Soou
assim: "Se você me investiga, eu
também te investigo". Detalhe
mórbido: Jucá encarna dois personagens em um. É líder do governo
Lula e foi líder do governo FHC.
Ora vai investigar, ora ser investigado -e em mão dupla.
Tudo pode ser só jogo de cena de
governo e oposição, mas não se esqueçam: aberta a CPI, ninguém segura. Muito menos a imprensa e
menos ainda se há pano para a
manga, como é o caso.
elianec@uol.com.br
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