São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Começou bem...

BRASÍLIA - Na reabertura do ano legislativo, ontem, no plenário da Câmara, a ministra Dilma Rousseff entrou muda e saiu calada, o ex-CPI dos Correios Osmar Serraglio leu a mensagem de autopromoção do governo, a presidente do STF, Ellen Gracie, esforçou-se para dizer que a Justiça é justa e quem mais brilhou -por incrível que pareça- foi o presidente-tampão do Senado, Garibaldi Alves Filho.
Em discurso que não acabava mais, atacou as MPs, a Constituição, o Judiciário, o Orçamento e o Congresso: "É inadiável propormos à nação medidas que levem ao saneamento ético da prática política e partidária no Brasil!".
Poucos, porém, deram bola. O plenário, esvaziado depois do recesso e do Carnaval (ninguém é de ferro...), dividia um pensamento único e uma agitação múltipla: a criação, ou melhor, o anúncio da criação de uma CPI para investigar a farra dos altos escalões com o dinheiro público, a partir do escândalo dos cartões corporativos.
Conforme o frasista Heráclito Fortes, do DEM, "ninguém prestou a menor atenção aos discursos, só o Marco Maciel e o Valdir Raupp". Uma ironia com o certinho Maciel e com a condição de Raupp, líder do PMDB no Senado. Será que ele quer mesmo a tal CPI?
Aliás, essa é a dúvida: quem quer? Foi a oposição quem ameaçou, mas foi o próprio líder do governo, Romero Jucá, quem formalizou o pedido, especificando o período de 1998 a 2008 (de FHC a Lula). Soou assim: "Se você me investiga, eu também te investigo". Detalhe mórbido: Jucá encarna dois personagens em um. É líder do governo Lula e foi líder do governo FHC. Ora vai investigar, ora ser investigado -e em mão dupla.
Tudo pode ser só jogo de cena de governo e oposição, mas não se esqueçam: aberta a CPI, ninguém segura. Muito menos a imprensa e menos ainda se há pano para a manga, como é o caso.

elianec@uol.com.br

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