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CARLOS HEITOR CONY
Tempo de palpites
RIO DE JANEIRO - Sempre achei
ridícula a tendência da mídia de futebolizar todos assuntos, transformando-os numa espécie de luta entre bons e maus, de vermelhos contra azuis, de Fla x Flu com infinitas
variações. Da eleição de um papa ao
melhor estandarte de uma escola
de samba, os entendidos são pródigos em análises e prognósticos, havendo mesmo uma certa emulação
para sagrar quem acerta o placar,
uma loteria esportiva que, na maioria dos casos, não tem vencedor.
É bem verdade que somos condenados a nos interessar pelas eleições presidenciais nos Estados Unidos. Formadores e informadores de
opinião torcem desbragadamente
por um e por outro candidato, como
se a vitória de um deles representasse uma futura idade de ouro para
a humanidade.
Lembro a estupefação causada
por Luís Carlos Prestes quando da
primeira eleição após a ditadura do
Estado Novo. Na luta entre o bem e
o mal, representada pelas candidaturas do marechal Dutra (PSD) e do
brigadeiro Eduardo Gomes (UDN),
o líder comunista declarou que não
via nenhuma diferença entre os
dois.
Como? Dutra fora o condestável
da ditadura, o brigadeiro representava a oposição ao totalitarismo.
Como podiam ser a mesma coisa?
Dutra era feio e casado, o brigadeiro
era bonito e solteiro. Valia tudo para descobrir diferenças entre os
dois. Mas Prestes tinha razão.
O mesmo se pode dizer dos atuais
candidatos à Casa Branca. Republicanos e democratas podem ter vantagens e desvantagens no tabuleiro
da política interna -que, aliás, diz
respeito somente aos norte-americanos. No plano internacional, as
diferenças são mínimas. E há os paradoxos: o endeusado democrata
Kennedy patrocinou a invasão de
Cuba, e o maldito republicano Nixon abriu o diálogo então possível
com a China e a antiga URSS.
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