|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
O custo incerto da ambigüidade
BRASÍLIA - A ambigüidade tem
sido uma das características políticas mais marcantes de Lula. O presidente fala em privado de forma
oblíqua. Os políticos saem do Planalto "se achando", como se ouve
nos diálogos das telenovelas. Em
seguida, muitos se decepcionam. O
petista executa em público quase o
oposto dos acertos professados nas
conversas de gabinete.
Como Lula foi reeleito presidente no ano passado, é argumentável
que sua estratégia esteja correta.
Engana os políticos. Segue em frente. Finge que vai fazer a reforma ministerial. Depois não faz -ontem,
anunciou novo adiamento.
Mas essa forma de operar a política nem sempre funcionou tão bem.
No final de 2004, Lula sinalizou ser
a favor da reeleição de José Sarney
e de João Paulo Cunha para as presidências do Senado e da Câmara.
Na prática, nada fez.
Severino Cavalcanti ocupou o vácuo. O clima pesou. O mensalão explodiu. A crise tomou conta do governo. Lula se salvou. OK. Só que o
problema poderia ter sido evitado.
No ano passado, Lula estendeu a
Aldo Rebelo o mesmo tratamento
dispensado a Sarney e a João Paulo.
O comunista acreditou que o Planalto o apoiava para presidir a Câmara. Foi uma verdade momentânea. Deu-se mal. Lula abandonou-o
no caminho, sem avisar.
Agora, o imolado foi Nelson Jobim. O ex-ministro do Supremo
Tribunal Federal queria presidir o
PMDB. Acreditou nos gestos de Lula. Foi fritado em público -junto
com José Sarney e Renan Calheiros, que o apoiavam.
Por enquanto, tudo bem. Lula está com sua popularidade nas alturas. As coisas andam. Mas as mágoas acumuladas podem ter um
custo político futuro.
Lula sabe dos riscos. Se os assume, deve estar seguro. No caso do
mensalão, tudo começou da mesma
forma: excesso de autoconfiança.
frodriguesbsb@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: A esperança e o deserto Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Mais anos "dourados' Índice
|