|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
A esperança e o deserto
SÃO PAULO - George Walker
Bush x Hugo Chávez é uma falsa
questão se se pretende discutir
quem fala mais aos corações e mentes latino-americanas. A resposta é
simples: nenhum dos dois.
Marta Lagos, a chilena que comanda o "Latinobarómetro", o melhor metro para medir o humor da
sub-região, já citou pesquisas que
mostram que ambos têm teor de
aceitação muito abaixo do medíocre: dos 72% que dizem conhecer
Bush, 29% avaliam-no positivamente. No caso de Chávez, 66% o
conhecem, mas só 26% o aprovam.
Mude-se a pergunta e mudará
também dramaticamente a resposta: o que atrai mais, o "socialismo do
século 21" de Chávez ou o capitalismo de sempre dos EUA?
É só saber quantos bolivianos,
peruanos, brasileiros etc. emigraram para a Venezuela desde a posse
de Chávez, se é que houve algum.
Ao passo que, para os Estados Unidos, a fila é imensa, de todas as cores e sotaques que formam a América Latina (e não só ela, aliás).
Ame-se ou odeie-se o modelo
norte-americano, o fato é que, para
os latino-americanos, os Estados
Unidos continuam sendo vistos como a terra das oportunidades, cada
vez mais. Mesmo para muitos brasileiros, apesar de o Brasil ter sido,
em outra era, o eldorado para italianos, japoneses, espanhóis, libaneses e tantos mais.
Outra pesquisa é ilustrativa a respeito: no Uruguai, Bush tem apenas
12% de aprovação, mas 59% dos
uruguaios querem um acordo de livre comércio com os EUA, inclusive
a maioria dos simpatizantes da
Frente Ampla, a coalizão esquerdista que governa o país.
Traduzindo para o popular: gritemos "abajo los gringos", mas agarremo-nos ao portentoso mercado
da única superpotência.
A questão não é, pois, Bush ou
Chávez, mas pôr no horizonte latino-americano a esperança ou continuar atravessando o deserto de
oportunidades.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Justiça à distância
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: O custo incerto da ambigüidade Índice
|