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NELSON MOTTA
Utopia carioca
RIO DE JANEIRO - Sempre que
vejo na televisão a propaganda do
TSE mandando a gente ficar de
olho nos nossos eleitos, sinto um
certo constrangimento e uma sensação de ridículo institucional. Mas
também um estranho orgulho e um
vago sabor de superioridade: há várias eleições voto no deputado Fernando Gabeira e nunca me decepcionei com seus votos, atitudes e
atuação política, mesmo quando, às
vezes, discordo de seus pontos de
vista. Sua honestidade e inteligência são inquestionáveis.
É uma felicidade democrática ter
alguém que realmente representa
no Congresso o que você pensa e
acredita. Isso também é quase ridículo, porque é uma exceção do que
deveria ser a norma, como é em países civilizados. Mas fiquei ainda
mais orgulhoso agora que ele impôs
suas condições para ser o candidato
da frente PV-PSDB-PPS à Prefeitura do Rio de Janeiro.
Não pediu poderes ilimitados,
nem caminhões de dinheiro, nem
submissão dos partidos à sua vontade: exigiu uma campanha limpa,
sem ataques pessoais, propositiva;
divulgação pela internet dos fundos
e despesas da campanha, e o principal: caso eleito, que o secretariado
seja escolhido por méritos e critérios profissionais e não partidários,
sem o habitual loteamento como
moeda de troca por apoio político.
Ele não acha que só porque "todos"
fazem errado ele deve fazer também. É quase uma utopia. Mas se é a
realidade em países civilizados, por
que não, um dia, no Brasil ?
Conhecido por sua trajetória dedicada aos direitos humanos, à ecologia, à saúde, à educação e à cultura, com reconhecida capacidade de
diálogo democrático e tolerância,
sem concessões à ladroagem e à política-como-ela-é, o que ele propõe
é o óbvio. Mas parece um sonho
quase impossível.
O Rio de Janeiro merece esta esperança.
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