São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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JOSÉ SARNEY

As nuvens se afastam

O CONFLITO entre guerrilheiros das Farc e forças colombianas em território do Equador volta ao leito sensato da diplomacia, com rescaldos de retórica.
A decisão da OEA, tomada com celeridade e por aclamação, mostrou o estado de espírito do continente: vamos ultrapassar esse incidente esperado e previsto. As causas ficam abertas a novos efeitos. As Farc constituem fonte de instabilidade na região há muitos anos.
Entre períodos de maior ou menor violência nunca deixaram de ser um potencial de atritos entre os países da área. Quando pareciam condenadas ao desaparecimento pela mudança do mundo, liberto da Guerra Fria e da confrontação ideológica, receberam inesperado alento do presidente Chávez, considerando-as como "forças beligerantes", status que jamais esperavam ter nesta altura do campeonato. Com isso deixou de ser um conflito interno para ser um abacaxi externo. Para organizações internacionais, as Farc são violadoras do direito internacional humanitário por suas ações "com bombas de cilindros de gás, morte de civis, seqüestros, tortura, uso de crianças em suas fileiras etc." Nossa Constituição, no artigo 4º inciso 8º, inclui entre os objetivos nacionais "o repúdio ao terrorismo e ao racismo".
É difícil classificar os seqüestros e mortes da população civil fora desse comando constitucional. Ingrid Betancourt que o diga.
A posição do Brasil, seguindo sua tradição, é de prudência. De nenhum modo devemos deixar que nos envolvam nesse conflito. Temos evitado que nosso território seja alvo de incursões desses grupos. Em 1985 as Farc chegaram a São Gabriel da Cachoeira, de onde foram expulsas numa vigorosa ação de nossas Forças Armadas. A política de ocupação e vigilância de nossas fronteiras que iniciamos então tem sido mantida por todos os nossos governos e o presidente Lula a confirmou.
Agora é a hora da diplomacia. Competentemente, de saída, o Brasil condenou a invasão como violação à soberania do Equador. Isso mostrou nossa isenção. Submetido o problema à OEA, esta isolou a Venezuela de Chávez com seus arroubos e afastou os Estados Unidos e a União Européia de qualquer protagonismo. O assunto é nosso e como nosso deve ficar, sendo tratado dentro da tradição de paz da América do Sul.
O Brasil é, por sua grandeza e importância, a garantia do equilíbrio no continente. Por isso fomos peça decisiva na solução. Agora é ir apagando as brasas que ainda queimam, o que sabe fazer muito bem o Itamaraty e o seu ministro Celso Amorim. Calma e água benta não fazem mal a ninguém.


jose-sarney@uol.com.br

JOSÉ SARNEY
escreve às sextas-feiras nesta coluna.


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