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JOSÉ SARNEY
As nuvens se afastam
O CONFLITO entre guerrilheiros das Farc e forças
colombianas em território
do Equador volta ao leito sensato
da diplomacia, com rescaldos
de retórica.
A decisão da OEA, tomada com
celeridade e por aclamação, mostrou o estado de espírito do continente: vamos ultrapassar esse incidente esperado e previsto. As causas ficam abertas a novos efeitos.
As Farc constituem fonte de instabilidade na região há muitos anos.
Entre períodos de maior ou menor
violência nunca deixaram de ser
um potencial de atritos entre os
países da área. Quando pareciam
condenadas ao desaparecimento
pela mudança do mundo, liberto da
Guerra Fria e da confrontação
ideológica, receberam inesperado
alento do presidente Chávez, considerando-as como "forças beligerantes", status que jamais esperavam ter nesta altura do campeonato. Com isso deixou de ser um conflito interno para ser um abacaxi
externo. Para organizações internacionais, as Farc são violadoras
do direito internacional humanitário por suas ações "com bombas de
cilindros de gás, morte de civis, seqüestros, tortura, uso de crianças
em suas fileiras etc." Nossa Constituição, no artigo 4º inciso 8º, inclui
entre os objetivos nacionais "o repúdio ao terrorismo e ao racismo".
É difícil classificar os seqüestros e
mortes da população civil fora desse comando constitucional. Ingrid
Betancourt que o diga.
A posição do Brasil, seguindo sua
tradição, é de prudência. De nenhum modo devemos deixar que
nos envolvam nesse conflito. Temos evitado que nosso território
seja alvo de incursões desses grupos. Em 1985 as Farc chegaram a
São Gabriel da Cachoeira, de onde
foram expulsas numa vigorosa
ação de nossas Forças Armadas. A
política de ocupação e vigilância de
nossas fronteiras que iniciamos
então tem sido mantida por todos
os nossos governos e o presidente
Lula a confirmou.
Agora é a hora da diplomacia.
Competentemente, de saída, o Brasil condenou a invasão como violação à soberania do Equador. Isso
mostrou nossa isenção. Submetido
o problema à OEA, esta isolou a Venezuela de Chávez com seus arroubos e afastou os Estados Unidos e a
União Européia de qualquer protagonismo. O assunto é nosso e como
nosso deve ficar, sendo tratado
dentro da tradição de paz da América do Sul.
O Brasil é, por sua grandeza e importância, a garantia do equilíbrio
no continente. Por isso fomos peça
decisiva na solução. Agora é ir apagando as brasas que ainda queimam, o que sabe fazer muito bem o
Itamaraty e o seu ministro Celso
Amorim. Calma e água benta não
fazem mal a ninguém.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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