São Paulo, segunda, 7 de abril de 1997.

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Balanço social: voluntário ou obrigatório?

HERBERT DE SOUZA

Em artigo recentemente publicado pela Folha (29/3), o empresário Ricardo Young, do Pensamento Nacional das Bases Empresariais, aprova a idéia do balanço social e apresenta uma série de propostas muito interessantes e importantes a serem consideradas.
Destaco duas delas. Primeiro, ele se mostrou contra a existência de uma lei que torne o balanço obrigatório e universal, como na França. Young defende uma adesão voluntária por parte das empresas.
Creio que essa é a solução ideal. Reflete uma disposição extremamente positiva por parte das empresas, uma das condições para que essa idéia dê certo. No entanto, a vantagem de uma lei é representar legitimidade institucional.
Tudo depende da aceitação do empresariado. Em favor dessa tese, é cada vez maior a consciência social nas empresas. Tanto para fora, nas relações com a sociedade e o meio ambiente, como para dentro, nas relações de trabalho.
A segunda idéia também é importante. Ricardo Young sugere que o governo e as empresas estatais dêem exemplo, publicando balanços sociais.
Nada mais justo e necessário. Todas as empresas estatais deveriam tornar transparente a dimensão social. O fato de serem públicas não garante automaticamente uma preocupação com o tema. Ao longo da história, já foi percebido que, muitas vezes, essas instituições deturpam objetivos de caráter social em prol de interesses privados.
Tal idéia deve atingir principalmente os governos municipais. Por natureza, as prefeituras são sociais, mas, geralmente, privatizadas em suas práticas e desligadas do interesse maior, da coletividade. Não custa publicar um balanço social adaptado às prefeituras.
Existe, portanto, um campo aberto para a convergência de projetos relativos ao balanço social, que devem ser desenvolvidos o quanto antes. Assim, haverá uma conexão com os inúmeros problemas sociais que o Estado, sozinho, tem se revelado incapaz de resolver. A iniciativa privada, muitas vezes, não se sente comprometida com o mundo em que vive e trabalha.
Cabe às empresas oferecer dados sobre as atividades no campo social a entidades autônomas e independentes da sociedade civil. São imprescindíveis o acompanhamento, a análise e a participação nesse esforço conjunto. O balanço social não pode ser uma peça de marketing, mas uma demonstração responsável de investimentos sociais realizados pelas empresas.
A idéia precisa tornar-se realidade e espalhar-se por todo o país. Nesse sentido, não importa quem é o pai ou a mãe da idéia. Todos devem colaborar o mais amplamente possível e com a maior transparência junto ao público, que é, em última análise, o beneficiado final do balanço.

Herbert de Souza, 61, sociólogo, é articulador nacional da Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida e diretor-geral do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas).

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