São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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DUPLA DERROTA

O governo federal enfrentou anteontem um dia penoso. Foram duas derrotas significativas nas duas Casas do Parlamento. Primeiramente, a medida provisória que proibia os bingos e as máquinas caça-níqueis foi derrubada no Senado Federal, ainda que por uma margem mínima de votos. Manifestaram-se contra 33 senadores, a favor, 32, e dois se abstiveram. Os senadores nem sequer chegaram a julgar o mérito da MP, rejeitada quando ainda se discutia sua "urgência e relevância", critérios preliminares que norteiam a publicação de medidas provisórias.
No outro episódio, na Câmara, a oposição conseguiu levar adiante a instalação de uma comissão mista para discutir o valor do salário mínimo e se apoderou dos cargos mais importantes, com o líder tucano Tasso Jereissati na presidência.
Diante dessa dupla derrota, é inevitável tirar algumas conclusões. Fica difícil concordar com as afirmações do ministro Aldo Rebelo, segundo o qual o Planalto mantém base sólida no Parlamento. Ao contrário, a rejeição da MP dos bingos, embora por poucos votos, indica claramente que o espaço de manobra do governo no Senado é cada vez mais exíguo.
Não é só isso. A votação indica também que a disputa entre os senadores Renan Calheiros e José Sarney, acerca da emenda da reeleição das Mesas da Câmara e do Senado, dividiu o PMDB e com ele parte importante da base governista. O recado de Calheiros é claro: ou o Planalto honra o compromisso de apoiar sua candidatura à presidência da Casa em 2005 e deixa de lado a emenda da reeleição, ou é bom não contar mais com a ajuda de seu grupo.
É também estranho que a outra parte da base peemedebista, ligada a Sarney, tenha votado contra a MP dos bingos. Some-se a isso a ausência do líder do governo, Aloizio Mercadante, num dia tão importante e o fraco desempenho de Ideli Salvatti, líder do PT, e impõe-se a impressão de que a base do governo não possui a firmeza que pretende Rebelo.


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