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JOSÉ SARNEY
Pit bull fora
de moda
As pesquisas de opinião pública,
instrumento moderno de bisbilhotar o pensamento coletivo, oferecem-nos surpresas que, muitas vezes,
não são sonhadas. A maior conseqüência política da pesquisa de opinião, como diria o Conselheiro Acácio, é a aferição da legitimidade dos
governantes. Nada dá mais calafrios a
quem governa do que uma pesquisa
para baixo.
Mas não é esse o motivo da minha
curiosidade. É uma pesquisa que acabo de ler da insuspeita Fundação Perseu Abramo, do PT, divulgada pelo
Instituto da Cidadania, fundado pelo
presidente Lula. Ela procura saber o
perfil da juventude brasileira. Algumas surpresas são grandes. Os dados
dizem que 45% do entrevistados se
consideram de centro, 21% de direita e
apenas 16% de esquerda. Também
coincidem nos mesmos 16% os que
consideram a ditadura melhor que a
democracia. Eles não são mais ideológicos, 46% não sabem sequer o que
significa socialismo. A quase totalidade tem orgulho de ser brasileiro, 91%
já saíram do "ame-o ou deixe-o", todos têm o Brasil em boa conta. Lembram-me um encontro que tive com
Alçada Baptista, o grande escritor português contemporâneo, em que ele
me dizia: "Eu agradeço a Deus por ter
me feito português. Calcule -prosseguia- se ele tivesse me feito mulher
no Irã". É o mesmo sentimento da juventude de agradecer a Deus por ser
brasileira e por não desperdiçar a vida
numa guerra escura, tendo de ir para o
Iraque torturar aquela pobre gente,
que, além de todas as amarguras, ainda tem de brincar de sexo grupal, com
a consciência do Alcorão e o temor a
Muhammad.
Um jornal brasileiro, comentando
os resultados dessa pesquisa, diz que,
"depois de ver uma realidade que inclui padres acusados de desvio de
comportamento, políticos em escândalo, pais que abandonam a família, o
jovem pergunta: em que vamos nos
apoiar? O jovem pode estar buscando
soluções num velho baú".
Essa pesquisa vem nos confrontar
com um dos principais perigos da informação atual: o pseudofato. O estereótipo que a grande mídia faz da nossa juventude é dos raps, skinheads, pit
bulls, gangues. Essa é a face dramática.
Mas a verdade invisível é a presença
de uma juventude responsável, estudiosa, que sabe que os desafios da vida
moderna só poderão ser vencidos
com trabalho, conhecimento e valores
morais. Os jovens consultados (98%)
confiam muito mais na família do que
no governo ou em outras instituições.
A instituição da família, que muitas
vezes nos parece em desintegração, é a
esperança dos jovens, o que aumenta
a responsabilidade dos pais e de todos
os que são responsáveis por ela como
repositório dos valores da convivência
e da vida.
O grande problema é o desamparo,
que começa na renúncia dos pais aos
seus deveres. É a falta de oportunidades, é a sedução da marginalidade,
principalmente entre os mais pobres e
os segregados em guetos sem condições nem qualidade de vida, como as
favelas e os acampamentos de periferia.
O que nos vem desses dados é a
crença de que a cabeça dos jovens está
íntegra, malgrado os problemas que
atravessam, desencantos e frustrações. Os grandes perigos são o Estado
incapaz de cumprir com seus deveres,
os valores perdidos e os exemplos desastrosos.
Platão dizia: "A velhice é ponderada
e prudente. A juventude diz: "É assim!'". Parece que a coisa está diferente. A juventude está dizendo: "Velhos,
juízo!"
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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