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CLÓVIS ROSSI
A casta fecha o círculo
SÃO PAULO - Peço antecipadamente perdão ao ombudsman desta
Folha, Carlos Eduardo Lins da Silva, por ser obrigado a reproduzir
duas frases de sua crítica interna.
As frases: "Depois de Gabeira, Suplicy. (...) Depois desses dois, vai ser
difícil convencer um cidadão comum de que no Congresso haja
qualquer pessoa digna da confiança
pública".
Se cito o Carlos Eduardo é não
apenas pelo respeito a um notável
profissional mas também por ser
bem menos sanguíneo do que sou.
Quando faz uma afirmação tão contundente, pode-se comprá-la pelo
valor de face, sem nenhum desconto, ao contrário do que poderia
ocorrer no meu caso, com mais
tempo de estrada, mais convivência
(forçada) com congressistas e um
teor de frustrações, por isso mesmo, bem mais elevado.
O ponto é exatamente o que Carlos Eduardo toca: como é possível
ao público confiar em qualquer
parlamentar se escorregam mesmo
congressistas que eram tidos até
ontem como paradigmas da ética e
da moralidade públicas, casos de
Eduardo Matarazzo (PT-SP) e Fernando Gabeira (PV-RJ)?
Não adianta Suplicy alegar que
devolveu o dinheiro das passagens
indevidamente usadas. Também
não adianta Gabeira afirmar que foi
um "erro". O que fica é o fato de que
a viciada cultura política do Congresso (e dos políticos em geral) vai
contaminando tudo e todos como
um vírus sem vacina.
Aliás, os privilégios solicitados
por ministros do STJ mostram que
esse tipo de cultura alcança esferas
que vão além do Congresso e além
da política, se entendida esta apenas como política partidária.
Repito o que já escrevi aqui:
criou-se no Brasil uma casta que toma como direito adquirido o que
não passa de privilégio obsceno.
Esperar mudanças em um sistema
de casta por iniciativa dos seus beneficiários é acreditar em Papai
Noel ou no saci-pererê.
crossi@uol.com.br
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