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CARLOS HEITOR CONY
Desculpa esfarrapada
RIO DE JANEIRO - O presidente
do Irã, cujo nome é tão complicado
que me recuso a escrevê-lo, cancelou em cima da hora a sua visita ao
Brasil e a alguns países aqui do segundo andar da geografia mundial.
O argumento foi tão esfarrapado
quanto a própria cara presidencial,
que tem a seu favor um único detalhe simpático: aboliu a gravata,
mesmo em cerimônias oficiais.
A desculpa protocolar foi a da situação interna do Irã. O país atravessa um período eleitoral, e não fica bem a um candidato viajar ao exterior em plena campanha presidencial. Acontece que tanto a eleição naquele país como a viagem à
América Latina estavam agendadas
havia muito.
O motivo do cancelamento foi a
pisada de bola do presidente iraniano em recente foro internacional,
quando expressou um sentimento
racista em relação a Israel, motivando a saída de diversos representantes europeus daquela reunião.
É evidente que ele tem o direito
de defender a causa dos palestinos
que se sentem prejudicados historicamente, desde a criação do Estado
judeu. Mas não se trata de um problema racial ou religioso. Ninguém
no Oriente Médio está brigando por
causa de Moisés ou de Maomé, por
causa da santificação de um sábado,
para os judeus, ou de uma sexta-feira, para os maometanos.
A briga é mais antiga. Na realidade, é a mais tradicional na história
dos povos: ocupação de território.
Nem raça nem culto estão em jogo.
Judeus e árabes são primos de sangue, descendentes de um tronco comum, podem viver e vivem pacificamente em diversas regiões do
mundo.
Com a sua desastrada fala em hora e em ambiente impróprios, numa reunião internacional em que o
clima deveria ser o mais cordial
possível, o presidente do Irã aumentou desnecessariamente um
fosso que já é trágico demais.
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