|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
KENNETH MAXWELL
O juiz Souter
e o futuro
NEM SE COMPARA ao bate-boca entre o presidente do
Supremo Tribunal Federal,
Gilmar Mendes, e o ministro Joaquim Barbosa, em Brasília, mas o
juiz David Souter, nesta semana,
em Washington, surpreendeu não
apenas os seus colegas na Corte Suprema dos Estados Unidos ao informar o presidente Barack Obama
que pretendia renunciar ao final da
presente sessão.
É realmente muito raro que um
juiz da Corte Suprema abra mão de
sua posição de forma voluntária.
Souter foi apontado para o posto
pelo presidente George Bush pai, e
assumiu sua cadeira no tribunal
em 1990. Mas desapontou aqueles
que o indicaram. Visto como conservador quando indicado, ele se
provou um voto confiável para a ala
liberal.
Aos 69 anos, Souter é relativamente jovem para os padrões da
Corte Suprema. O juiz John Paul
Stevens tem 89 anos. Souter poderia permanecer no posto por mais
uma década, no mínimo, se assim
escolhesse. Sua posição era vitalícia. Mas viver em Washington jamais o agradou. Souter é um clássico homem da Nova Inglaterra: calado, laborioso e nada melodramático. Aspirava voltar ao seu lar e à
vida pacata em New Hampshire.
Ao anunciar sua renúncia tão cedo no mandato de um novo presidente, o juiz Souter deu a Barack
Obama a oportunidade de criar
uma nova maioria na corte. Haverá
provavelmente mais duas renúncias no tribunal ao longo dos próximos quatro anos, o que oferece ao
presidente Obama a oportunidade
de reformular a Corte Suprema ao
reforçar a ala liberal.
Os democratas do Senado têm
clara maioria no Comitê Judiciário, onde os méritos do novo indicado serão debatidos e votados.
Mas, certamente, isso não diminuirá a oposição. Após a mudança
de partido do senador Arlen Spector, da Pensilvânia, os republicanos, agora liderados pelo senador
Jeff Sessions, do Alabama, serão
severos críticos. Além das questões
sobre o discernimento jurídico do
candidato, suas posições em relação a temas controversos, como o
aborto e o casamento gay, ocuparão lugar de destaque.
O presidente Obama bem que
poderia ter sido poupado dessa distração. Ele enfrenta sérias batalhas
quanto à economia, à intervenção
do governo na indústria automobilística e à contenciosa reforma do
sistema de saúde. Mas o juiz Souter
ofereceu uma oportunidade de ouro ao presidente para que inicie
uma transformação que pode fazer
grande diferença, a longo prazo,
em uma das mais importantes instituições norte-americanas. Isso
não acontece todo dia.
Potencialmente, há a chance de
mudar o rumo do país pela próxima década ou além dela.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Desculpa esfarrapada Próximo Texto: Frases
Índice
|