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MAIS CURTO, MAIS CARO
O surto de turbulência no mercado financeiro está tardando
a arrefecer. Os fatores que contribuem para o nervosismo são vários.
A incerteza política é um deles, mas
teria muito menos impacto se a situação das contas externas fosse
mais sólida, e a dívida pública tivesse
perfil de vencimento mais longo.
A fragilidade das contas externas e
da dívida pública não será superada
neste governo: é um problema estrutural que qualquer futuro governante
terá de enfrentar. Mas, para além da
conjuntura política e das debilidades
estruturais da economia, é provável
que o atual surto de nervosismo tenha ingredientes conjunturais ligados a ambiguidades da política econômica. A gestão da dívida pública e
a da taxa de juros parecem vir sendo
feitas com base em duas avaliações
contrastantes do quadro econômico.
Na política de juros, o Banco Central vinha se revelando bastante conservador. Absteve-se de reduzir a taxa
básica em abril e maio apesar da debilidade da atividade econômica. Sua
cautela parecia se basear, implicitamente, numa avaliação de que cortar
os juros, embora pudesse estimular a
formação de expectativas mais favoráveis, seria arriscado.
Já na gestão da dívida pública o governo se revelava mais ambicioso:
buscava alongar os vencimentos e,
em particular, limitar muito os vencimentos no início de 2003 -criando
um período de "trégua" na rolagem
da dívida para o próximo governo.
Além disso, vinha buscando reduzir
o custo dessa rolagem (como ao trocar títulos com correção pelo dólar
por operações "casadas" de venda de
LFTs e de "swap" cambial).
Alongar a dívida e barateá-la são
objetivos louváveis. Mas, para serem
factíveis, requerem um ambiente
propício. A turbulência recente vem
mostrando que o ambiente se tornou
adverso. A tal ponto que o governo
vem aceitando encurtar o vencimento da dívida, revertendo parte do
alongamento que obtivera.
O desafio imediato que se coloca
para as autoridades é impedir que o
surto de nervosismo culmine numa
crise do balanço de pagamentos. Parece haver condições para tanto; numa eventual emergência, o país contaria com crédito do FMI. Mas o espaço para cortar os juros se estreitou.
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