São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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MAIS CURTO, MAIS CARO

O surto de turbulência no mercado financeiro está tardando a arrefecer. Os fatores que contribuem para o nervosismo são vários. A incerteza política é um deles, mas teria muito menos impacto se a situação das contas externas fosse mais sólida, e a dívida pública tivesse perfil de vencimento mais longo.
A fragilidade das contas externas e da dívida pública não será superada neste governo: é um problema estrutural que qualquer futuro governante terá de enfrentar. Mas, para além da conjuntura política e das debilidades estruturais da economia, é provável que o atual surto de nervosismo tenha ingredientes conjunturais ligados a ambiguidades da política econômica. A gestão da dívida pública e a da taxa de juros parecem vir sendo feitas com base em duas avaliações contrastantes do quadro econômico.
Na política de juros, o Banco Central vinha se revelando bastante conservador. Absteve-se de reduzir a taxa básica em abril e maio apesar da debilidade da atividade econômica. Sua cautela parecia se basear, implicitamente, numa avaliação de que cortar os juros, embora pudesse estimular a formação de expectativas mais favoráveis, seria arriscado.
Já na gestão da dívida pública o governo se revelava mais ambicioso: buscava alongar os vencimentos e, em particular, limitar muito os vencimentos no início de 2003 -criando um período de "trégua" na rolagem da dívida para o próximo governo. Além disso, vinha buscando reduzir o custo dessa rolagem (como ao trocar títulos com correção pelo dólar por operações "casadas" de venda de LFTs e de "swap" cambial).
Alongar a dívida e barateá-la são objetivos louváveis. Mas, para serem factíveis, requerem um ambiente propício. A turbulência recente vem mostrando que o ambiente se tornou adverso. A tal ponto que o governo vem aceitando encurtar o vencimento da dívida, revertendo parte do alongamento que obtivera.
O desafio imediato que se coloca para as autoridades é impedir que o surto de nervosismo culmine numa crise do balanço de pagamentos. Parece haver condições para tanto; numa eventual emergência, o país contaria com crédito do FMI. Mas o espaço para cortar os juros se estreitou.



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